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sábado, 20 de agosto de 2005

Visão (errônea!) da América Latina

Como é terrível a visão que os americanos tem dos latinos, inclusive nós, brasileiros!! Porque é isso que somos: LATINOS!! O pior é que os jovens, por um lado não tem culpa alguma, pois isso já vem de gerações.

Assisti a uma palestra lá na Fundação Joaquim Nabuco com o professor João Feres Junior. Ele falou tudo que eu pensava quando criei o título “Entra por osmose”. O nome da palestra foi América Latina: a construção de um conceito.

Vamos lá... A tese de Feres se baseava mais ou menos na seguinte percepção: A (pertencente a sua cultura) enxerga B como se fosse sua contra-imagem, ou seja, em outras palavras, a visão de determinada cultura através do etnocentrismo.

Levando em consideração esse conceito, os latinos são vistos pelos estadunidenses (sim... é bem melhor do que dizer americanos, já que nós também o somos!! Afinal moramos na América, não?!) como:: extravagantes na aparência, orgulhosos e mulherengos!!

O termo América Latina é de origem francesa, só no final do século XIX, começo dos XX foi que começou a ser usado nos EUA. Antes o que corresponde a “América Latina” era chamado de Spanish America, ou América Espanhola, em português. Olha aí já a generalização... por acaso somos descendentes de espanhóis? Um país tão imenso, que fala português, considerado parte de uma América “ESPANHOLA”!!

O curioso é que os estadunidenses criavam conceitos e mais conceitos, faziam estudos e mais estudos, mas sem terem qualquer contato com os hispânicos. Daí o favorecimento da construção de estereótipos, haja vista que eles existem para simplificar algo – por exemplo, a cultura – extremamente complexo.

Mesmo distantes dos latinos, eles criaram uma imagem desse povo por conta da imagem já produzida acerca dos espanhóis. É aquela velha história: “Filho de peixe, peixinho é!”

Quando foram anexar os territórios mexicanos, os Estados Unidos afirmavam que devido ao sangue, raça e culturas diferentes dos latinos, eles não se enquadrariam ao sistema político americano. Caso os territórios fossem anexados, os mexicanos deveriam ser tratados como colonizados. Os habitantes de possessões como Porto Rico, Havaí, não são considerados “americanos” justamente em decorrência desse fato.

Os Estados Unidos se plocamaram “tutores do mundo”. Antes o grande tutelado era a América Latina. Hoje quem são? Nem precisa perguntar, né? Os estadunidenses “supervisionavam” os paises latinos para verificarem se eles estavam “cumprindo as leis”. Por incrível que pareça não é só o islamismo que foi uma pedra no sapato dos EUA. Há décadas, o “problema” era o catolicismo!! A espiritualidade impedia o pragmatismo, que auxiliava “a incapacidade nata para modernização”, isso porque ajudava na manutenção de um tipo de “feudalismo”. Para Richard Morse a “América Espanhola” não tem história porque o passado ainda é presente. Eles nos viam (ou melhor, nos vêem) como eternamente atrasados.

O que fez os estudos sobre a América Latina aumentarem foi a Revolução Cubana em 1959. E, através da teoria da modernização, pretendia-se promover o crescimento do capitalismo nos paises subdesenvolvidos. Em outras palavras, totalmente em sintonia com os interesses dos EUA, eles queriam bloquear o crescimento do comunismo na América Latina. Como fazer isso? Simples, ué! Até hoje eles fazem! Colonizando os pobres coitados latinos através da cultura enlatada deles! E pior é que mesmo que a gente não queria, ela... entra por osmose!

Mas durante a palestra João Feres Junior faz uma pergunta e ele próprio a responde. Será que os Estados Unidos não têm traços coloniais? E os guetos e as relações raciais entre eles? Segundo João Feres, isso fez com que eles se tornassem “acríticos do eu”.

Eles nos vêem como violentos. Mas o que é a história americana se não um imenso derramamento de sangue?! Isso me faz lembrar o documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine, no qual os bonequinhos do South Park mostram a história dos EUA. Eles (ingleses das Treze Colônias) acabaram com os índios, depois os primeiros que nasceram nos EUA, brigaram com os ingleses pela independência, lutaram na Guerra de Secessão, depois dizimaram os mexicanos; jogaram duas bombas atômicas no Japão; sem contar na Guerra do Vietnã, Iraque...

E o que é de morrer de rir são as capas dos livros sobre os estudos latinos. Sempre os EUA são representados por um “adulto”, geralmente o tio Sam, enquanto que os latinos são crianças irreponsaveis, negras (não tem índio por aqui?) ou eles ilustram os livros de “História MODERNA da América Latina” com imagens pré-colombianas! Nossa... que modernidade!! Acho que ainda acreditam que vivemos em ocas!

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