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domingo, 6 de setembro de 2009

Makali: a "kalima" do indie pop francês

Como algumas pessoas que me conhecem já sabem – e outras que me conhecem apenas um pouquinho também já sabem disso!!... – interesso-me por tudo relacionado à França, à língua, à literatura francesa...

Foi quando, por acaso, assisti o filme Um bom ano, pois havia visto que o cenário principal seria Provence. A primeira coisa que faço quando gosto de um filme é procurar a trilha sonora. Resolvi então consultar o meu amigo Google e descobri uma banda incrível, com a dosagem certa de humor, ironia, além de muita musicalidade. Qual é a banda? Makali (anagrama do árabe "kalima", cujo significado é "palavra"). A banda – talvez não por acaso – também é da cidade de Vaucluse, naprovíncia de Goult, na Provença.

Inicialmente tratava-se de um trio, formado 2003 e composto por Armelle Ita (voz e clarinete), Andrea Papi (guitarra e backing vocal) e Barnabé Saïd-Albert (voz e guitarra), filho de Isabelle Adjani. Pouco tempo depois se juntaram a eles: Audrey Saturi (violoncelo), Cleps Puig (baixo e contrabaixo) e Nico Rew (bateria e percussão).

Em 2005, três faixas do grupo foram selecionadas para a trilha sonora de Um bom ano, dentre as quais Il faut du temps au temps. No CD De la chanson et puis c’est tout ainda há destaque para as canções Mais bon !, Sur les chemins, On s’fait du mal.

O grupos cita como influências Mathieu Boogaerts, Taj Mahal, Björk, Camille (que também faz parte da trilha sonora de Um bom ano), Third World, Portishead, -M-, , Timbaland & the Beat Club, Missy Elliott, Prince, Zero 7, Sia, G.Brassens, Nick Drake, Leonard Cohen, Tom Waits, Pink Floyd, Sid Barrett, J.Higelin, Mr Gainsbourg, The Doors, Metallica, Jimy Hendrix, Faith No More, Snoop Dogg, Nikka Costa, Jeff Buckley, Pantera, Pauline Crose, Fiona Apple, Outkast, Bob Marley, La Mano Negra, Rage Against The Machine, Fishbone, Busta Rhymes, Miles Davis, Michael Jackson, The White Stripes, Morphine, entre outros. Como se pode ver, pela lista, o som do Makali é influenciado por várias tribos, o que faz da banda francesa uma representante da música pós-moderna e transnacional; algo que já se viu, todavia, que continua sendo diferente.

Mais bon...!!

* Fotos: Glen E. Friedman (myspace.com/chezmakali) e Bertrand Jacquot.






Site oficial: www.chezmakali.com
Myspace: www.myspace.com/chezmakali






segunda-feira, 29 de junho de 2009

They don't care about us ou they didn't care about "him"?!

Quem matou Michael Jackson? Ou a pergunta deveria ser formulada para “O quê matou Michael Jackson”? Desde a morte do Rei do Pop comecei a pensar acerca do que teria contribuído para a morte dele e, confesso, que me senti também responsável por ver aquele homem frágil minguando, dando os últimos sopros de vida. Assim como milhões, bilhões de pessoas em todo o mundo, sou curiosa, já cheguei até a fazer textinhos para aula de alemão “tirando onda” com Michael.

É então que paro e penso... a vida do talentoso menino começou cheia de sofrimento, ter de deixar a infância, ou melhor, de adiá-la – uma vez que tentou resgatar a infância perdida em Neverland – para satisfazer os caprichos de um pai que queria transformar os filhos em estrelas, talvez por ele próprio não ter conseguido ser uma, em um mundo tão segregado racialmente quanto era o das celebridades estadunidenses há algumas décadas.

Da infância perdida para a fama avassaladora, com milhões de discos vendidos e recordes de vendas. A fama proporcionou dinheiro... muito dinheiro, o que também trouxe com isso a inveja, a ganância, a ambição desenfreada de algumas pessoas que tentavam deturpar o jeito do homem-menino, as excentricidades em perversão. Será que o fato de gostar de ser uma criança, de se sentir uma criança o tornaria um pedófilo? Querendo ou não, nós lemos, contribuímos, demos audiências para as pessoas que lucravam com este tipo de notícia...
Nasceram as crianças, talvez as pessoas que ele mais amou no mundo e para quem ele tentou proporcionar a infância que não teve, o amor de pai que faltou a ele. E o que ocorre, agora que Michael Jackson fechou os olhos? Boatos de que eles não são seus filhos. Mas, não foi ele que os criou e que deu todo amor? Será que isso o torna menos pai do que o Sr. Jackson que é pai biológico de Michael, porém que o tratou somente como um produto?

Paro e penso novamente... nas letras... We are the world, tão cantada, tão aclamada, hino contra a fome na África, reavivada no Live 8. Mas, até nisso, a bondade dele não foi tão notada, não ao ponto do reconhecimento que foi dado a Bono Vox ou a Bob Geldof.

Até quando queria fazer o bem, Michael Jackson era polêmico e destorcido... A música They don’t care about us foi acusada de anti-semita por conta de uma hermenêutica que visa apenas destruir, encontrar o mal e não enxergar o bem, a propagação da palavra, do sentido da letra, das imagens das favelas e da pobreza do Brasil. Ao dizer que “eles não ligam para a gente”, vejo que apenas nesta frase, poderíamos ver o descaso, descaso dos governantes para com os governados, de políticos corruptos, de uma mídia de abutres, de intelectuais gananciosos, de pessoas egoístas... A letra ainda diz: “Diga-me o que aconteceu com meus direitos/ Eu sou invisível? Porque você me ignora/ Sua proclamação me prometeu liberdade / Estou cansado de ser vítima da vergonha / Eles estão acabando com minha reputação/ Não acredito que essa é a terra de onde vim/ Você sabe que eu na verdade odeio falar isso/ O governo não quer enxergar.”

Tento dizer a mim mesma que lutarei para ser uma das que ligam, entretanto carrego o peso de fazer parte desta sociedade capitalista selvagem e, por conseguinte, tenho parcela da culpa, pois, algumas vezes viro a cara para as injustiças sociais.

Mas, voltando a Michael Jackson... Lembro-me do alvoroço que houve quando ele veio ao Brasil gravar um clipe no Rio e em Salvador. Creio que eu deveria ter 11 ou 12 anos, entretanto, recordo-me muito bem da passagem dele aqui. Reflito mais uma vez e acredito que quando ele cantou They don’t care about us, estava referindo-se também a ele, o qual muitas vezes foi deixando de segundo plano, teve sua dignidade como pessoa humana escanteada...

domingo, 28 de junho de 2009

Renan Luce: o principezinho do Pop francês

Romantismo (com um leve tom sarcástico), voz rouca, rosto de menino. Essa é uma combinação que pode dar certo no mundo da música e é o que aconteceu com o jovem cantor francês Renan Luce. O rapaz, aos 28 anos, já ganhou inúmeros prêmios, dentre eles o Victoires de la Musique 2008 nas categorias álbum “revelação” do ano e cantor revelação. E isso é apenas o começo, uma vez que ele só lançou um álbum até agora – Repenti, em 2006. Repenti foi disco de platina em 2007 na França (em 2008 havia vendido 550 mil cópias) e disco de ouro na Bélgica. Em tempos de crise na indústria fonográfica, os números alcançados pelo francês são bastante consideráveis.

As canções de Renan Luce têm letras fáceis, as quais, após escutar algumas vezes, possivelmente você irá sair cantarolando; elas falam de aspectos do cotidiano, coisas simples, mas, sobretudo de histórias de amor. Nos clipes, geralmente possuem um aspecto vintage, proporcionando, ao mesmo tempo, um cenário nostálgico e bem-humorado.

O clipe do hit La lettre é uma síntese da imagem de bom moço que Renan Luce quer passar. Nele, um rapaz recebe, por engano, uma carta de uma moça desesperada por ter sido deixada pelo namorado. Ao ler o local onde a garota estaria, Renan parte imediatamente ao encontro dela para impedi-la de fazer uma besteira. Ao vê-la descobre que ela está grávida e resolve, então, acolhê-la e assumir a criança. “Mas eu que sou um rapaz que gosta bem desse tipo de joguinhos, vou bater em Newton, pois eu me apaixonei; (...)Mas eu que sou um rapaz que gosta bem desse tipo de joguinhos, quero que ele me chama de papai, caso ele queira.

Em 12 de outubro, Renan Luce vai lançar um novo álbum, intitulado Le Clan des Miros. O novo single do cantor – La fille de la bande – pode ser escutado no site oficial do cantor. E, para as garotas que, ao ler este artigo começaram a sonhar com o principezinho da música Pop francesa, uma má notícia: o rapaz é comprometido e, tudo indica, que casará este ano com a escritora francesa Lolita Séchan, filha do famoso cantor francês Renaud, com o qual Renan já dividiu o palco para cantar Je me suis fait tout petit de Georges Brassens.

Site oficial: http://renanluce.artistes.universalmusic.fr/

sábado, 2 de maio de 2009

Regard vers l'ailleurs

Regarder vers l’ailleurs... “Regarder”, garder d’une autre fois. Regarder vers l’ailleurs peut signifier faire attention à une autre culture, à un autre peuple, pourtant cela peut aussi signifier regarder notre propre culture avec un regard différent.

L’homme n’est pas toujours le même. Il change, ses pensées et, par conséquence, la manière de voir l’autre, de vivre avec quelqu’un. Cette vision change pourvu que les expériences (les bonnes et les mauvaises) vécues ont des influences fondamentales dans leurs vies.

On peut regarder vers l’ailleurs d’une façon honnête quand on a la volonté d’ouvrir l’esprit à l’autre, d’essayer de comprendre l’être humain comment il est, malgré les différences culturelles, des générations, des status sociaux. Les différences doivent être des estimulants pour qu’on puisse établir des relations.

« Regarder vers l’ailleurs » peut être une excellente chose dès le moment qu’on voit qu’on peut apprendre avec l’autre, que nous ne sommes pas les maîtres de la vérité. Mais l’envers est aussi possible. Quand on a des conceptions formées avant connaître l’autre, le regard vers l’ailleurs, vers l’autre sera plein de méchancité et de préjugé. Ce regard a, par conséquence, la discrimination, les différences sociales et... parfois, à l’extrême, la guerre.

Il faudrait commencer, d’abord, toujours par la différence qui existe entre « regarder » et « voir ». Vivement qu’on commence à regarder plus qu’à voir.

domingo, 12 de abril de 2009

Um livro sobre o amor à leitura

Aula de francês em Perpigan (sul da França), lá estava este projeto de escritora, na sala, sentada durante o intervalo. Chega um senhor – aparentava ter uns 40 e poucos anos – de cabelos grandes, lisos e aloirados. “O que você está lendo?”, perguntou-me. Mostrei La Curée de Émile Zola e ele com um sorriso (uma das características mais marcantes dele) perguntou o motivo. Falamos um pouco da obra, do meu curso de francês no Brasil. Na segunda, terceira vez que veio conversar comigo eu estava sem saber o que falar. Explico: além da minha típica timidez, o Monsieur era meu professor de francês, o qual falava a língua perfeitamente (óbvio!), de uma maneira tão sonora e tão bela que parecia o canto de uma sereia.

Foi então que, como um ato de defesa, para ter o que falar e não ficar tomada pelo silêncio, pedi-lhe algumas dicas de leitura. Ele perguntou que gênero eu gostaria de ler e respondi que “queria uma leitura moderna”. Monsieur G. então me questionou o que era moderno para mim. “Da década de 60 até hoje”, falei. Ele disse que me recomendaria três autores franceses que não eram “comerciais” apenas, que “sobreviveram” devido à boa literatura.

Pesquisa no site da Fnac. Ohlala... quantos livros!! “Monsieur G, será que o senhor poderia ser mais específico e me recomendar um livro de cada autor?” Ele passou a mão pelos cabelos esvoaçantes, refletiu e escreveu no meu caderninho três nomes: Le chercheur d’or (Le Clézio), Vendredi ou les limbes du Pacifique (Michel Tournier) e Comme um roman (Daniel Pennac).

No último dia de aula, dia de receber o diploma, encontro Monsieur G. na sala em companhia de Monsieur H. “Professor, olha aqui o que achei”, falei toda empolgada. Monsieur F. olhou para mim, de um sorrisinho malicioso e comentou: “Ótimas escolhas! Três estilos completamente diferentes.” Monsieur G. olhou o colega e respondeu todo orgulhoso: “São minhas recomendações.”

O tempo passou, voltei ao Brasil e me pus a ler outras coisas, deixando de lado o que Monsieur G. me havia recomendado. A saudade dos amigos que fiz em Perpignan, a vontade de voltar à França, o amor pela literatura francesa aguçado pelos meus professores de francês no Brasil... tudo isso me fez procurar, no meu modesto acervo, as recomendações pelo Monsieur G..

Lembro que, na época, eu não tinha pensado nos motivos daquelas indicações. Hoje descobri dois: Le Clézio cursou o PhD na Universidade de Perpignan; Daniel Pennac faz uma verdadeira declaração de amor à leitura no livro Comme um roman.

E esse é o objetivo deste texto: versar (ou pelo menos tentar) sobre Comme um roman. Trata-se de um livro prazeroso de se ler que possui quatro capítulos: I – Naissance de l’alchimiste; II – Il faut lire (le dogme); III – Donner à lire; IV – Le qu’en lira-t-on (ou les droits imprescriptibles du lecteur). Os subcapítulos são curtos; alguns com apenas uma citação. A linguagem é acessível e tem-se a impressão de que o escritor dialoga a todo o momento com o leitor.

O livro é sobre o processo de aprendizagem da leitura e da escrita; o amor pelos livros; os motivos que impedem alguém de gostar de ler. Tudo escrito de uma maneira leve, divertida, com uma pitada de ironia que somente aguça a vontade de devorar essa obra.

Daniel Pennac começa contando a história de um casal que tem um filho adolescente que não quer ler. Os pais se questionam sobre o que deu errado. Nem o casal nem o garoto tem nome, sendo assim, as personagens poderiam ser qualquer um: na França ou no Brasil. A segunda parte do livro se passa na escola e mostra o que faz um professor (o narrador) para fazer os alunos se interessarem pela leitura. Diz Pennac que “ler se aprenda na escola. Amar ler...”.

Mas, às vezes, é possível achar um professor que desperte o amor dos alunos pela leitura, “sua própria vivacidade, graças ao esforço que se transforma em prazer”. É preciso expor o amor pela leitura para que ela seja benquista pelos pupilos. “Uma leitura bem escolhida salva de tudo, inclusive de si mesmo. E, acima de tudo, lemos contra a morte”, escreve o autor.

Quando a leitura é feita de maneira prazerosa sentimos vontade de dividir o que lemos com os outros, com os entes queridos. Queremos compartilhar o que preferimos com “nossos preferidos”.

A leitura termina sendo um paradoxo, pois Pennac fala tanto do silêncio quanto da leitura como forma de comunicação. Quanto ao primeiro aspecto comenta Daniel Pennac: “O prazer do livro lido, nós o guardamos frequentemente no segredo por causa do nosso ciúme. Seja porque não vemos aí algo para discutir, seja porque, antes de puder dizer uma palavra, deve-se deixar o tempo fazer o silencioso trabalho da destilação. Esse silêncio garante a nossa intimidade. O livro é lido, mas nós ainda estamos lá. A única evocação a ele abre um refúgio no nosso refúgio. Ele nos preserva do Grande Exterior. Ele nos oferece um observatório plantado em paisagens contingentes. Nós lemos e ficamos calados. Nós ficamos calados porque nós tínhamos lido.” A leitura, entretanto, não é apenas o silêncio. Ela é uma estratégia de comunicação quando, num salão (ou numa sala de aula?! Qualquer semelhança talvez não seja mera coincidência) não se tem o que dizer ao outro. “Se a leitura não é um ato de comunicação imediata, ela é, finalmente, objeto de comunhão. Mas uma comunhão distinta e selvagemente seletiva.”

O que impediria a todos de serem ávidos leitores, então? Às vezes, tem-se medo de ler porque há, embutido, um medo de não compreender. Pennac diz que esquecemos que um romance deve ser lido como um romance, o qual, primeiramente conta uma história. Para saciar nossa forma de ficção ficamos em frente à tela (não importa se é a telinha ou a telona)... passivos. Mas isso funciona apenas como algo que forra o estômago, sem saciar realmente a fome. “Nós nos sentimos tão sós quanto antes.” Enquanto lemos, ocorre o contrário; o autor dialoga conosco, conta a história somente para nós; há uma cumplicidade. O prazer do romance é essa descoberta de intimidade entre autor e leitor. Uma vez que nos reconciliamos com a leitura, que o texto perdeu o aspecto de “enigma paralisante”, o esforço que se faz para extrair o sentido dele se torna um prazer e “o prazer de compreender me mergulha quase na embriaguez da ardente solidão do esforço”.

Outro impedimento à leitura é o tempo para leitura, visto como “uma ameaça à eternidade”. Começamos a nos perguntar o que iremos sacrificar para dedicar algumas horas, alguns minutos à leitura. Pennac responde: “Quando nos perguntamos sobre o tempo para ler é porque o desejo de fazê-lo não existe. Pois, se olharmos isso de perto, ninguém jamais tem tempo de ler. A vida é um entrave perpétuo à leitura. O tempo de ler é sempre um tempo roubado (assim como o tempo de escrever ou, finalmente, o tempo de amar). Roubado de quê? Digamos que do dever de viver.” E ele continua: “O tempo de ler, como o tempo de amar, dilata o tempo de viver.” Ele diz que essa discussão não é para saber se há tempo para ler ou não, mas se me ofereço a alegria de ser um leitor.

Um assunto também abordado em Comme um roman é o relacionamento do livro (matéria em si) com o leitor. Como nos tornamos possessivos e ciumentos com nossos livros. Mas esse é o preço da intimidade. É por isso que, na maioria das vezes, temos dificuldade de devolver um livro que tomamos emprestado. “Não é exatamente um roubo (não, não, não somos ladrões, não...), digamos que é um deslizamento de propriedade, ou melhor, uma transferência de substância: se o que estava sob o olho do outro se torna meu enquanto meu olho o devora; e, se eu amei o que eu li, eu provo alguma dificuldade de ‘devolvê-lo’.”

O livro não deixa de ser um “produto da sociedade hiperconsumista. Visto por este ângulo, o livro não é mais nem menos que um objeto de consumação, e é também tão efêmero quanto esse objeto: imediatamente passa à pilha; se ele ‘não funciona’, morre mais rápido sem ter sido lido”.

Ao ler o livro fiquei temerosa em escrever sobre ele já que Pennac fala que nós que amamos ler e queremos propagar o amor à leitura, certas vezes, nos “preferimos” mais como hermeneutas. A palavra do livro dá lugar a nossa. Geralmente não deixamos a inteligência do livro falar pela nossa boca e a remetemos a nossa própria inteligência ao falar do texto. “Nós não somos os emissários do livro, mas os guardiões semeadores de um templo no qual expomos as maravilhas com as nossas palavras que fecham as portas. ´Tem que ler! Tem que ler!’”. É como se ao dizermos “tem que ler” acabássemos a descoberta pelo prazer da leitura. Nosso papel é apenas despertá-lo.

Porém, não poderia deixar de dividir com vocês o amor que sinto pela leitura e a delícia de ler esse livro. Não poderia, conforme pensamento do autor, deixar de falar de um dos meus (livros) preferidos para os meus preferidos (meus queridos leitores).

Cá estou, então, terminando este artigo, e, volto a pensar naquele senhor alto, de cabeleira loira e vasta, sorriso nos lábios. Lembro-me, por conseguinte, de uma passagem de Comme um roman: “Quando alguém que nos é caro nos dá um livro é ele quem procuramos, primeiramente, nas linhas, seus gostos, as razões que o impulsionaram a nos meter esse livro nas mãos, os sinais de fraternidade. Depois, o texto nos absorve e nós esquecemos aquilo onde mergulhamos; é o poder de uma obra.” Recordo-me de Monsieur G., pergunto-me se voltarei a vê-lo, penso em como gostaria de agradecê-lo por ter me apresentado a uma parcela – pequena, no entanto, que não deixa de ser importantíssima – da leitura francesa, por ter estimulado minha curiosidade por ela. Todas as vezes nas quais eu olhar ou folhear Comme um roman, lembrarei de Monsieur G., pois “os anos passam e acontece que a evocação do texto nos remete a uma lembrança do outro. Alguns títulos se transformam novamente em rostos”. E Comme um roman se transformara em um rosto alvo, emoldurado por longos e lisos cabelos loiros.


Para saber mais:




Livro: Comme un roman
Autor: Daniel Pennac
Editora: Folio France
ISBN: 8576290847
Número de páginas: 208





Livro: Como um romance
Autor: Daniel Pennac
Tradutor: Leny Werneck
Editora: Rocco
ISBN: 8525417971
Número de páginas: 152

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Joy Division, New Order e "the New Order"

Você, leitor, já pensou que a música é um reflexo da sociedade e da cultura de um determinado local, de um determinada época? Acredito que sim. E, o quê pensar ao escutar uma música do Joy Division? E do New Order? Inúmeras poderiam ser as teorias sobre o grupo de Manchester, liderado por Ian Curtis, que se suicidou aos 24 anos; e sobre o grupo composto pelos remanescentes do Joy Division, o New Order.

A editora Landy publicou o livro Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência escrito por Helena Uehara. O livro mostra as diversas interpretações, as variadas formas de “sentir” e de “ver” dos fãs dos dois grupos musicais. Ela também analisa as letras das músicas, comparando-as com os contextos políticos, sociais e culturais vigentes na época na qual foram escritas. Ao dizer que “nada é mera coincidência”, a autora tenta mostrar que os movimentos culturais – e também os de contraculturas, vistos um pouco “à margem” da sociedade – são um reflexo do que ocorre no mundo em determinado período.

“Se Warsaw era uma banda punk, Joy Divison é pós-punk. New Order é eletropop. Como uma banda, com as mesmas raízes, pode mudar tanto? Partir para propostas aparentemente tão distantes e díspares? Nada é mera coincidência. Cada uma das bandas é reflexo do seu tempo, do contexto histórico em que se insere. Os acontecimentos históricos de final da década de 70 e início de 80 retratam um período de profundas mudanças. O Joy Division e, posteriormente, o New Order são antenas sensíveis que captam essas mudanças, que vivem as suas conseqüências sociais e econômicas. Ian Curtis é a voz que canta a angústia das incertezas da transição de uma era à outra. O fim da era Pós-Industrial e o início da era da Globalização e a da Informação, da Internet.”

Conforme escreveu Helena Uehara, a Inglaterra passava por dificuldades no final da década de 70. “Tempos difíceis na terra que um dia foi berço da Revolução Industrial. Decadência, desesperança, desemprego. Sentimentos de revolta, raiva e ódio contra o sistema vigente no final da década de 70:conservador e capitalista. Não havia oportunidades reais ou um futuro promissor para os jovens, sobretudo da classe operária.”

Em 1978, a rainha Elizabeth celebrava os 25 anos de seu reinado. Mas o Reino Unido, na verdade, começava a ser comandado pela “Dama de Ferro” – Margareth Tatcher. “Não é por acaso que tanto Iggy Pop como Ian Curtis e os demais integrantes do Joy Division são produtos originários de duas cidades industriais do final do século XX: Ann Arbor/ Detroit, nos Estados Unidos e Mcclesfield, cidade vizinha a Manchester, na Inglaterra. Representantes legítimos da escória do mundo capitalista.”

Qual seria a mensagem, a filosofia do movimento punk? A escritora diz que “uma das mensagens subliminares punks era: não se deixem guiar nem julguem os outros pelas aparências. Abaixo o consumismo e a ditadura da moda. Usem as roupas até rasgarem, furarem. Reinventem, reciclem. O lixo não é lixo. Nós não somos lixos!”

Todavia, ela aponta para uma controvérsia, para a mudança provocada pelo movimento capitalista e, por conseguinte, pelo consumismo exacerbado, tão em voga na sociedade atual. “No entanto, décadas após o surgimento do movimento punk, o sistema absorveu tudo que fosse interessante, vendável e lucrativo. Contraditória e ironicamente, o que mais existe hoje são bandas punk de butique, modelos de alta-costura em estilo sadomaso com pitada punk, jeans tratados e rasgados artificialmente que custam uma fortuna. E as pessoas, sobretudo as de alto poder aquisitivo, vestem-se assim porque está na moda, porque é legal ser diferente, chamar atenção aparentando rebeldia. Alienadas e distantes...de tudo o que foi um dia o punk.”

As transformações ocorreram... quanto ao Joy Division, a principal foi a morte de Ian Curtis. Porém, a morte, que deu um término ao Joy Division, também deu surgimento... ao New Order. Segundo o que consta no livro, os integrantes remanescentes do Joy Division – e formadores do New Order – evitam falar no assunto e dar entrevistas. Por essa razão, há uma pergunta ainda sem resposta... (a primeira de várias) qual seria a origem do nome da banda? “Há muitas interpretações em relação ao significado do nome New Order: 1- seria uma referência à 'nova ordem mundial' que o Hitler pretendia implantar durante o nazismo. Esta versão é a mais difundida pela imprensa, pelas revistas especializadas e constantemente reproduzida na internet; 2- o termo 'nova ordem mundial' estaria dentro do contexto da globalização dos anos 80 que trouxe um reordenação do mundo capitalista; 3- os integrantes queriam simplesmente desvincular-se do passado (Joy Division) e começar tudo de novo (New Order), baseado numa nova proposta e filosofia musical, estabelecendo uma nova ordem para o grupo; 4- homenagem ou referência ao conjunto norte-americano New Order formado por ex-integrantes do Stooges, do Iggy Pop; 5- influência da filosofia punk, fundamentada no anarquismo, que prega radical desorganização e destruição de estilos e procedimentos tradicionais para posterior reorganização ou construção do novo, para (re)estabelecimento de uma nova ordem.”

No primeiro trabalho, a banda teve problemas, porém, em 1983, veio o sucesso com o single Blue Monday, cuja vendagem foi de três milhões de cópias. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o grupo disse que havia retirado a batida de uma música de Donna Summer e os samples de Radioactivity, do Kraftwerk. O conjunto alemão tinha forte influência sobre a banda. Não é por acaso que, no álbum Power Corruption and Lies, existe uma versão da melodia do Kraftwerk: Your Silent Face, também chamada de KW1, nítida alusão aos músicos alemães. Quem mostrou o Kraftwerk – mais especificamente o trabalho Trans Europe: Express - aos integrantes do New Order foi Ian Curtis.

Aos poucos, o New Order foi se mostrando um influenciador dos ouvintes e dos gostos musicais de milhares de pessoas. O grupo foi se tornando um marco não do cenário indie, punk (do qual Joy Division sempre fará parte), mas do âmbito pop, eletrônico, como se a música fosse um espelho dessa Matrix onde vivemos, desse mundo cibernético. “O foco do New Order não são mais as músicas que emergem do inconsciente, que ‘tocam a alma’, como nos tempos do Joy Division, mas sim aquelas que falam de coisas cotidianas e que ‘tocam o corpo’ nas pistas de dança no mundo inteiro”, escreve Helena Uehara.

Para saber mais:




Livro: Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência
Autor: Helena Uehara
Coleção Novos Caminhos
Editora: Landy
ISBN: 8576290847
Número de páginas: 144





Filme: Control
País: Inglaterra
Gênero: Drama
Direção: Anton Corbjn
Elenco: Sam Riley, Samantha Morton,
Alexandra Maria Lara,
Joe Anderson, Toby Kebbell
Roteiro: Matt Greenhalgh
Duração: 122 minutos
Site oficial: http://www.controlthemovie.com/





quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Federico Aubele: um "achado" na música latina

Federico Aubele foi uma surpresa nas minhas “cutucadas” pela net. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir um músico da estirpe deste argentino. Aos 35 anos, esse portenho que estudou música na França (emigrou para Berlim em 2001... isso mesmo... o ano da tal crise na Argentina!), já lançou dois discos. O primeiro chama-se Gran Hotel Buenos Aires (2003), o segundo é intitulado Panamericana (2007).

Aubele mescla jazz, tango, bolero, a guitarra flamenca, música eletrônica... tudo vira uma mistura que dá um excelente resultado que pode ser conferida nos trabalhos dele. No primeiro trabalho, a presença dos beats eletrônicos é forte, algo que poderia ser comparado ao conterrâneo Bajofondo e também com grande influência da dupla Thievery Comporation (não por acaso... foram os dois DJs estadunidenses que produziram o primeiro CD de Aubele) e do mestre Astor Piazzolla. Os vocais sensuais ficam por conta de sua amiga Sumaia.

No segundo trabalho, mais experiente, o músico apresenta uma identidade mais firme. Pode-se escutar mais a voz de Aubele – que até então preferia ficar apenas no violão – assim como as canções estão mais “latinas”. O produto final é impecável... Sensualidade, suavidade... Algo que pode fazer o ouvinte fechar os olhos e sonhar que está em um café, na capital portenha, durante a primavera. Em entrevista à revista Rolling Stone da Argentina (20/10/2008), o músico disse que quando fez Gran Hotel Buenos Aires sentia falta de Buenos Aires sem se dar conta, mas que com Panamericana a saudade era consciente. “A nostalgia te faz ver coisas de outro ângulo”, comentou. Comentário mais “tanguero” não há!

Federico Aubele é uma prova de que conservar a cultura nem sempre é ir contra o mercado. “Em determinados contextos, se você conserva a sua cultura, se torna mais interessante. Quando eu gravava as demos, pensava em incluir algum tema em inglês, porém os produtores me disseram que não, que temas em inglês havia de sobra. O mais exótico era que fosse tudo em espanhol”, comentou à Rolling Stone. Os fãs da boa música agradecem! E para os brasileiros que escutam as músicas de Aubele, saibam que há um “dedinho” brazuca no meio. Uma das cantoras que o argentino escutava enquanto estava em Berlim era Bebel Gilberto.

Myspace de Federico Aubele.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

2009: l'Année de la France au Brésil!


2009 é o ano da França no Brasil. A celebração se deve ao sucesso que o Ano do Brasil na França (Brésil, Brésils) obteve. A partir de então, os dois presentes decidiram estreitar os laços em todos os domínios. Por isso, vários eventos culturais, educacionais serão realizados tanto no Brasil quanto na França. Quem quiser conferir a programação clique aqui. Fique atento para o que acontecerá na sua cidade!

2009 c'est l'année de la France au Brésil. La célebration est une conséquence du succès de l'Année du Brésil en France (Brésil, Brésils). Alors, les deux présidents ont décidé d'aprocher les deux pays dans tous les domaines. C'est pour cela que, plusieurs événements culturels seront réalisés au Brésil et aussi en France. Qui veut voir la programation cliquez ici. Attention à ce qui aura lieu dans votre ville!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Mi Buenos Aires querido

Buenos Aires… cuando se escucha el nombre de esa ciudad es como si algo fuera encantado (¿por qué no decir que aparezcan sentimientos de admiración y curiosidad también?). Buenos Aires es una mezcla de sentimientos. Ella te despierta el amor y el odio; alegría y tristeza. Así es Buenos Aires: una contradicción. Y eso la hace un lugar único.

Ella es aquella mujer seductora de quién te enamorás; ella te seduce y después te abandona. Justamente como las mujeres tangueras. Pero ella no es solamente la ciudad que fue el panorama de los tangos y de los cuentos de Borges. Buenos Aires es tambien la ciudad de los cafés desparramados por casi todas las esquinas; es la ciudad de las señoras que pasean con sus perros y de la nueva generación… un poco “emo” y “flogger”.

Buenos Aires es la elegante ciudad de los afortunados que viven en Palermo (¡y cuántos Palermos! Hay Palermo Soho, Hollywood, Viejo), en Recoleta u en Puerto Madero. También es la ciudad del barrio “La Boca”, fundado por los inmigrantes y que hoy es un punto turístico obligatorio por contener el famoso “Caminito” y por ser donde está ubicado el estadio del equipo de fútbol Boca Juniors. Ella es aún la ciudad de los “conventillos” que aparecieron en la década de 90 cuando los inmigrantes (la mayoría compuesta por peruanos y bolivianos) fueron a Argentina en busca de una (supuesta) mejor calidad de vida.

Pero lo que tal vez Buenos Aires tenga de más encantador (y al mismo tiempo aterrador) son los argentinos. Ellos tanto pueden ser muy simpáticos, las personas más gentiles del mundo como, todavía, los más estupidos (¡boludos!). En el transito, ellos se transforman. Entonces, es en ese momento, que escuchás (¡y aprendés!) muchas “malas palabras”.

Mucho cuidado cuando vaya a cruzar la calle. Si ellos tuvieran la oportunidad, van a atropellarte. Pese que la nueva ley de transito esté en vigor desde 1 de enero de 2009. Ellos no respetan los peatones. Ellos son tan individualistas al punto de no importales si vos estás en el medio de la calle mientras el semáforo se volvió verde.

Pero, si tenés dudas, si preguntás si debés hablar con un argentino… ¡hacelo! La peor cosa que puede ocurrirte es que ellos no sean muy cordiales, mas, con el tiempo, vas a acostumbrarte.

Tal vez (tal vez no, seguramente) Buenos Aires sea eso calderón de diferencias a causa de la inmigración que empezó en el final del siglo XIX. Italianos, rusos, alemanes, judíos, españoles… todos cruzaron el océano y vinieron para América del Sur buscando una vida mejor. Y esa mezcla de cultura, de orígenes resuelta en rasgos y en el acento de los argentinos.

En Buenos Aires, hacia donde vinieron los inmigrantes con el objetivo de poblar la desplobada ciudad del siglo XIX. Podemos ver morochos de ojos oscuros o rubios de ojos muy claros. Pero, cuando habla, percibimos al acento porteño similar al de los italianos, más específicamente al acento de los napolitanos.

Y es de esa mezcla de italiano con español que nació el “lunfardo”, algo como el “verlan” en Francia. El lunfardo era el lenguaje de los “astutos” que vivían en los cabarets, de los que escribían y bailaban tango. “El mayor producto de exportación del país” – el tango – se volvió famoso después de haber sido aceptado en Francia. Hoy las cosas cambiaron. El tango ahora es electrónico. Las personas no lo escuchan tanto. Ahora los hits son la “cumbia” y el “reggaeton”.

Buenos Aires ya no más es aquella ciudad de clase media donde se vivía tranquilamente. En ciertos barrios es preciso tener cuidado al caminar por la noche. Las personas están más cautelosas para no ser robadas; el tránsito es caotico y hay mierda de los perritos por la acera. Ahora los argentinos tienen que compartir el espacio con las “villas”.

Por más que extrañes tu país, cuando dejás Buenos Aires vas a sentir el corazon apretado. Llorá, llorá por la Argentina, pues ella lo merece. Ella no puede llorar por vos, pero vos podés y debés llorar por ella. Si ella hablara, ella te diría: “¡Llores por mi, la Argentina!”

Pode chorar por Buenos Aires...

Buenos Aires... ao ouvir o nome dessa cidade parece que uma aura de encantamento (e por que não dizer de curiosidade e de admiração também?) surge. Buenos Aires é uma mescla de sentimentos. Ela te desperta amor e ódio, alegria e tristeza. Buenos Aires é assim: um contraste. E é isso que a torna um lugar impar.

Ela é aquela mulher sedutora que te apaixona, te seduz e depois te abandona. Justamente como as mulheres “tangueras”. Ela não é apenas a cidade que serviu de cenário para os diversos tangos e para os contos de Borges. Buenos Aires também é a cidade dos cafés espalhados por quase todas as esquinas, das senhoras que passeiam (ah... como eles adoram os “perritos”!) e da nova geração um tanto emo e flogger.

Buenos Aires é a cidade elegante dos ricos que vivem em Palermo (e quantos Palermos! Tem Palermo Soho, Hollywood, Viejo...), na Recoleta e em Puerto Madero. Também é aquela cidade do bairro do Boca, fundado por imigrantes e que hoje é ponto turístico obrigatório por ter ruas como “Caminito” e ser onde está o Boca Juniors. Ela é ainda a cidade dos “conventillos” (para nós, algo como “cortiços”) que surgiram na década de 90 com a vinda de imigrantes peruanos e bolivianos que partiram em busca de emprego e fugindo da fome e da pobreza.

Mas o que talvez Buenos Aires tenha de mais encantador (e ao mesmo tempo assustador) seja os argentinos. Eles tanto podem ser as pessoas mais gentis do mundo, como serem as mais estúpidas. E como são passionais! No trânsito, eles se transformam. É aí que você se escuta (e aprende!) uma série de palavrões. Cuidado ao atravessar as ruas. Se eles tiverem uma oportunidade, atropelam você! (brincadeira!) Apesar da nova lei de trânsito, a qual entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano e que, como no Brasil, tira pontos dos motoristas, os argentinos não respeitam os pedestres. Eles são tão individualistas ao ponto de não dar a mínima para o caso de o sinal ter aberto “mientras” você estava atravessando a rua. Na dúvida, fale com um argentino. O máximo que pode te acontecer é levar um fora, mas, como tempo, você se acostuma. Além disso, eles são muitíssimo prestativos.

Talvez (talvez não, com certeza) Buenos Aires seja esse fervor, esse caldeirão de diferenças devido à imigração que iniciou no final do século XIX. Italianos, russos, alemães, judeus, espanhóis... todos atravessavam o oceano e vinham para a América do Sul em busca de uma vida melhor. E essa mistura de culturas, de origens se reflete no rosto e no sotaque dos argentinos.

Em Buenos Aires, para onde foram os imigrantes com o intuito de povoar a até então despovoada cidade, pode-se encontrar morenos de olhos escuros e loiríssimos de olhos azuis. Ao falar, o portenho deixa escapar, naturalmente, um sotaque similar ao do italiano; para ser mais específica, ao do napolitano. Pesquisas já comprovaram que o sotaque portenho e o napolitano são idênticos, ou seja, muitos argentinos são “quase” italianos falando espanhol.

E é dessa mistura do italiano com o espanhol que nasceu o “lunfardo”, algo como o “verlan” francês. O lunfardo era a “língua” falada pelos malandros que viviam nos caberets, escreviam e dançavam tangos. O maior produto de exportação do país – o tango – ficou famoso depois de ter sido aceito na França e é utilizado como referência cultural na Argentina.

Mas hoje as coisas mudaram. O tango agora é eletrônico. As pessoas não o escutam tanto. Agora os hits são a “cumbia” (ritmo parecido com a salsa que se assemelha um pouco ao “brega” no Brasil) e o reggaeton.

Buenos Aires já não é aquela cidade e uma classe média que vivia bem e tranqüila. Em certos bairros é preciso tomar muito cuidado ao andar à noite. As pessoas são sempre cautelosas para não serem roubadas, o trânsito é caótico e o côco dos “perritos” estão espalhados pelas calçadas. Agora eles têm que conviver com as “villas” (as “favelas” argentinas) e com as pessoas que não tiveram oportunidade de ter uma vida melhor e utilizam as vias ilegais para obterem algo.

Por mais que você sinta falta do Brasil, ao deixar Buenos Aires você sentirá um aperto no coração. Chore, chore pela Argentina, pois ela merece. Ela não pode chorar por você, já você pode e deve chorar por ela!

sábado, 24 de janeiro de 2009

James Blunt: uma grande surpresa

Confesso que só conhecia algumas músicas de James Blunt por causa da novela e do Eurochannel. Quando eu fui a Europa, em 2005, todos os canais de música passavam o clipe de "You re beautiful" eu pensava: "Nossa...! Que cantor tao lindo...!" Mas nada mais do que isso. Achava a voz bonitinha e ponto...

Mas depois de assistir a performance de James Blunt em Buenos Aires, agora eu mudaria a frase a intonacao da frase para: "Nossa...! Que cantor! E ainda é tao lindo!" Ele é um showman, sabe conduzir o público, nao deixa a platéia parada, prende a atencao daqueles que estao presentes. E a voz? Muito melhor do que pelo CD. Eu nunca tinha visto um cantor conseguir cantar melhor ao vivo do que a gravacao do CD. Fiquei chocada... mas choque de surpresa. E agora, me tornei fa de James Blunt. Simplesmente incrível! E a pontualidade? Britanica!

P.S. - Desculpem a falta de cedilhas e til, mas nao consigo achá-las nos teclados argentinos.