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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A África esquecida de Hotel Ruanda

Dor, desespero, ódio, desprezo, preconceito, perseverança, amor, compaixão, garra... inúmeros seriam os substantivos que poderiam ser relacionados ao filme Hotel Ruanda. Ele foi inspirado na luta do Paul Rusesabagina para abrigar conterrâneos, vítimas do genocídio, no qual a etnia tutsi foi massacrada pela hundu, e, que aconteceu em Ruanda em 1994, 10 anos antes for filme ser lançado.

Apesar de fazer pouco tempo do acontecimento dessa tragédia , se não fosse o filme, talvez ela teria sido esquecida quase completamente. A resposta está no próprio Hotel Ruanda quando o coronel da Organização das Nações Unidas (ONU) diz, num ataque de fúria e revolta por não ter muitas opções, a Paul que não se poderia fazer nada porque as superpotências não se importavam com a África, segundo elas, seria um lixo. Se houvesse petróleo lá, a história com certeza seria diferente.

Além disso, pode-se ver como a imprensa somente mostra o lado que mais a convém, não se importando em mostrar imagens terríveis de um massacre num telejornal. Tudo vale, desde que se aumente a audiência. O fato mais triste é que mesmo vendo cenas como os genocídios na África, as guerras civis na ex-Iugoslávia ou até mesmo a revolta de um presídio no Brasil, os telespectadores apenas dizem “isso é terrível” e cruzam os braços, tomam seus cafés da manhã, vão aos shoppings, como se nada estivesse acontecendo. O mundo talvez esteja mais parecido com o pensamento de Thomas Hobbes do que quando o filósofo inglês vivia.

Mas, cada cidadão pode começar a mudar essa situação. Assim como Paul Rusesagabina, deve-se pensar que sempre há uma saída e lutar por ela. Se cada um, que assistiu ao filme, conseguiu se comover e pensar em maneiras de tornar o mundo um pouco melhor, já é um bom começo. Da mesma maneira que já será se você, ao ler este texto, cogitou a possibilidade de ver Hotel Ruanda.

Por que não fazer algo agora, então? Se você não sabe como ajudar, se não pode disponibilizar tempo para serviços comunitários, se não tem dinheiro, não importa... o que basta é que você tenha consciência de seu papel como cidadão e como peça importante para a paz e a integração mundial. Vou dar uma dica: pode começar clicando aqui, lendo algumas das matérias publicadas, assinando abaixo-assinados. Sua opinião é importante, você tem todo o direito de cobrar dos políticos, das autoridades. Exerça sua cidadania!

E lembre-se: “Nunca duvide da capacidade de um pequeno grupo de cidadãos formado e comprometido de mudar o mundo; na realidade, esta foi a única maneira de se conseguir isso até agora.” (Margaret Mead) Foi assim que Nelson Mandela, Bob Geldof, Paul Rusesagabina, Betinho pensaram...


Para saber mais:

Hotel Ruanda
(2004)

Direção:
Terry George

Elenco: Don Cheadle
Sophie Okonedo
Desmond Dube
Haakem Kae-Kazin
Nick Nolte
Joaquin Phoenix

Roteiro: Terry George
Keir Pearson



quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O país hierárquico e a cabeça do brasileiro

“Você sabe com quem está falando?”. É meio difícil nunca ter escutado esta pergunta, a qual se tornou o símbolo da sociedade hierárquica brasileira, segundo sociólogo Roberto DaMatta. Para ele, numa sociedade igualitária, escutar-se-ia sempre em seguida: “Quem você pensa que é?”.

Mas não é assim que acontece em terras tupiniquins. O mito da democracia, de todos juntos convivendo pacificamente no Brasil, não é algo mais além de... mito! Há preconceito tanto racial quanto de classes. O Brasil está longe de ser aquele de Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala. E é isso que quer confirmar, utilizando números através da intitulada Pesquisa Social Brasileira (PESB), Carlos Alberto em seu livro A cabeça do brasileiro.

Uma das questões mais abordadas é a do “jeitinho” brasileiro, já transformado em produto de exportação. Como diz Alberto Carlos, “as vítimas são a lei e a norma”. E no Brasil o que não falta são leis. Há cerca de 181.318, de acordo com dados da Casa Civil. Trata-se de um reflexo da necessidade de regulamentação e interferência estatal no âmbito privado, o que só ocorre devido à falta de consciência de que todos são iguais e de que o meu direito termina quando o do outro começa.

Entretanto, nem tudo está perdido; ainda existe saída e ela seria a educação, conforme se verifica nos resultados da PESB. “A qualidade da democracia aumenta quando a população é mais escolarizada. Mais do que isso, a democracia só é possível em sociedades com níveis mais elevados de escolarização”, diz Alberto Carlos Almeida. A melhora já se verifica no comportamento dos brasileiros mais jovens e dos mais escolarizados.

É preciso que a educação seja mais levada a sério, pois ela é causa e conseqüência de uma sociedade ser considerada moderna ou arcaica. Ambos adjetivos podem ser atribuídos à sociedade brasileira. “O país não é um bloco monolítico, mas uma sociedade profundamente dividida. O Brasil, na verdade, são dois países separados, num verdadeiro apartheid cultural”, afirma o autor. Ele declara que “entre os fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais importantes é a escolaridade”.

Tanto na educação quanto em outros aspectos o que falta no Brasil é distribuição justa e igualitária. Deve-se também ficar atento para a qualidade e não apenas para a quantidade, o que tem ocorrido ultimamente com o número indiscriminado de cursos e faculdades sendo abertas, somente visando o lucro de seus donos e esquecendo-se dos verdadeiros objetivos de uma instituição de ensino. Tem-se que ensinar com qualidade e que preparar os alunos para terem uma visão mais abrangente do mundo, não somente ensinar técnicas profissionais.





Para saber mais:

A cabeça do brasileiro
Autor: Alberto Carlos Almeida
Editora Record