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sábado, 27 de agosto de 2005

O caminho das nuvens

As bicicletas têm um papel muito além do de meio de transporte ou de meras coadjuvantes no filme “O caminho das nuvens”. A bicicleta é o elemento de ligação e, em certos casos, de desunião entre a família de retirantes nordestinos que percorrem mais de três mil quilômetros da Paraíba até o Rio de Janeiro, acreditando num futuro melhor.

É tendo as bicicletas como único meio de não se separar da família e ir em busca do seu sonho, que Romão sai destinado atrás de um emprego e uma vida digna para os que dele dependem. Ao viajarem juntos, a união e dependência dos familiares aumentam.

Um exemplo da bicicleta como fator que favorece a desunião fica explícito no momento em que há uma briga entre o casal principal. Romão (Wagner Moura) afirma que a viagem torna-se mais difícil por ser em bicicletas (“fura pneu, se machuca”) e fala que a esposa não sabe andar direito, o que a deixa irritada e causa momentos de tensão entre Rose (Cláudia Abreu) e o esposo. A bicicleta também é o único elo entre a Antônio, o filho mais velho, e a família quando ele decide “tomar as rédeas da vida” e tornar-se um adulto.

A todo o momento é questionada a atitude de Romão de percorrer mais de três mil quilômetros de bicicletas e com filhos pequenos (no início do filme, o caminhoneiro pergunta se é promessa), é como se o fato de não ter nada, lugar para morar, comida, roupa não tivesse importância. O que realmente é levado em consideração é o posicionamento do protagonista de utilizar as bicicletas.

Como afirma o ator Wagner Moura “a imagem da bicicleta é uma coisa muito poética”. E, é com esse lirismo que o enredo vai se tornando leve, suave e romântico. Com as bicicletas, os viajantes dependem, quase unicamente, do próprio esforço físico, da coragem. Eles não precisam alimentar nem abastecer o meio de transporte escolhido. As únicas coisas que “abastecem” a viagem são a alegria, a esperança e a união.

As bicicletas são as companheiras, estão presentes em todo o decorrer do filme. Até mesmo quando não são usadas, elas estão lá, paradas, inertes, como expectadoras e agentes influenciadores do filme.

A primeira coisa que Rose questiona ao viajar num caminhão (primeira vez que teriam de desfazerem das bicicletas) é: “E as bicicletas, podemos levar as bicicletas?” Elas são marco de um passado miserável e crença num futuro melhor, lembrança da terra deixada para trás e meio para chegar num lugar melhor.

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