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sábado, 24 de dezembro de 2005

Os educadores

Jan, Jule e Peter: três jovens revolucionários que querem “educar” a elite alemã. Sim... educar, pois eles se intitulam de “Os educadores”, daí o título do filme. Seguindo o exemplo de Adeus, Lênin (com Daniel Brühl, mesmo ator que faz Jan), o enredo mostra um pouco da sociedade da Alemanha, que sofre há anos com toda a história política e social. A conturbação nesse país europeu vai desde antes do tempo do Früher, passando pela separação entre Alemanha Oriental e Ocidental, até os dias de hoje, nos quais os teutos se vêem ameaçados com uma possível instabilidade econômica e demonstraram isso nas urnas.

Mas The Edukators apresenta uma faceta da juventude atual que poderia fazer parte de qualquer lugar do mundo. Não existe mais um ideal certo, um inimigo claro contra o qual lutar como nos anos 60 ou 70. É como Jan diz, o que era revolucionário nessa época, hoje está nas prateleiras para ser vendidos e dar lucro. Ele até mesmo cita as inúmeras camisetas de Che Guevara (algo que eu já havia comentado no texto anterior). O fato é que não existe ideologia e, quando há, ela é o retrato do pós-modernismo: inconstante, múltipla. A prova é tamanha que Jan diz a Jule que, quando se observa mais do que se age, vive-se numa Matrix. Todos nós estamos vivendo numa, pois somos agentes passivos de uma história que está sendo feita “para” nós e não “por” nós.

Durante o filme somos levados a pensar o quanto nos rendemos ao sistema capitalista, mesmo sem percebermos. Hardenberg (milionário seqüestrado pelos três jovens) é uma prova da transformação feita pelo capitalismo, já que ele próprio foi um militante. É como ele afirma, “aos poucos vai acontecendo e você não percebe. Um dia você troca seu carro velho; no outro constitui uma família e quer uma casa boa...”.

É se deixando levar por essa mutação (in)consciente que compramos dezenas de roupas que não usamos; sapatos que valem uma fortuna, porém custam muito menos, porque são feitos por mão-de-obra barata, exploração infantil... Você pergunta: “É eu com isso?” Vou deixar os educadores responderem: “Manche Leute ändern sich nie” (Algumas pessoas nunca mudam.)

Entrevista com o diretor Hans Weingartner.

domingo, 6 de novembro de 2005

Live Strong Che Guevara!

A febre tomou conta do mundo. É quase impossível ver alguém que não tenha as benditas pulseirinhas amarelas da Nike. E é TODO MUNDO mesmo... de Jesse McCartney em seriado da Sony, Sean Paul no novo clipe ao coleguinha da universidade.

Mas vá perguntar se sabem o significado delas, quem as fundou. Eu confesso também que não sabia. Não vou me fingir de entendida, não. Só descobri depois de que o meu orientador de projeto (sobre bicicletas) falou sobre as pulseiras de Lance Armstrong.

Isso mesmo!! Para quem ainda não conhece a história, elas foram criadas pelo ciciclista texano heptacampeão do Tour de France. O objetivo dele era arrecadar dinheiro para as pessoas que sofrem com o câncer. Até a cor tem uma explicação, pois amarela é a cor preferida de Lance, assim como da camisa do vencedor da Volta da França. Ele também fundou a Fundação Lance Armstrong que ajuda aqueles que sofrem com esse tipo de doença, da qual ele se curou. Mais um parêntese: o texano teve câncer de testículo, e, tornou-se campeão do Tour de France depois que se curou completamente.

Voltando para a conversa sobre o "modismo". É inacreditável quantas coisas que usamos pour ser fashion, estar na moda, tem seus significados. E se não fosse por uma boa causa? Isso me faz lembrar de... Che Guevara! Quantas são as pessoas que estampam uma camisa do argentino (sim... ele é nosso hermanito!) sem saber quais foram os seus ideais?!... Garanto que ele não gostaria de saber a moda do último desfile...

O post só foi para nos ligarmos, sem nada muito acadêmico, somente para vermos o quanto de simbolismo não tem os dias de hoje.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Jornalismo sem fronteiras

Você já notou que o noticiário internacional ocupa um espaço relativamente pequeno na maioria dos jornais e que na maioria das vezes o texto é feito por agências internacionais (ou nacionais quando se tratam de jornais de médio e de pequeno porte)? Será mesmo que as notícias têm o peso que merecem? Como é o perfil de quem faz as notícias e de quem as lê? Essas são perguntas que podem ter as respostas encontradas no livro “Jornalismo Internacional” da Editora Contexto, escrito por João Batista Natali, que foi correspondente na Folha de São Paulo.

O livro Jornalismo internacional, escrito pelo jornalista João Batista Natali, é uma verdadeira aula sobre o tema, que possui pouca obra relacionada a ele. No decorrer da leitura, encontra-se o perfil do leitor da editoria internacional, o que é preciso para ser um bom jornalista dessa área, além de um pouco da história do jornalismo internacional e da trajetória da Folha de São Paulo, no quesito em questão.

Através de uma linguagem simples, foi redigido num tom coloquial, fazendo parecer que o escritor conversa diretamente com quem lê. Ele não se intimida em cortar o assunto e indicar um livro para aprofundamento. E, a todo instante, faz convites para serem feitas mais pesquisas relativas ao jornalismo internacional.

Para Natali, essa editoria deve receber uma atenção especial, pois “o leitor faz parte de um segmento minoritário e mais bem informado. É um leitor que possui critérios menos provincianos e mais metropolitanos de interesse”.

Mas, como seria o perfil ideal de um profissional que trabalha com esse tipo de jornalismo? Um fator importantíssimo seria a curiosidade pela História. Isso porque é “equivocada a idéia de que o jornalista lida apenas com a atualidade. Não há competência profissional sem que tenhamos uma visão clara daquilo que está historicamente por detrás da notícia e que as agências internacionais não transmitem”.

Assim como nos demais setores, a crise econômica atingiu as redações. O que era um trabalho exclusivo dos jornalistas do noticiário internacional passou a ser atribuído aos demais funcionários das outras editorias. Tudo para que fossem reduzidos os gastos com correspondentes no exterior.

Até a qualificação do jornalista deve ser melhor do que nos anos anteriores, já que “se passou a exigir mais dos redatores das editorias internacionais”. Afinal de contas, custa caro manter um profissional fora do país.

O jornalista da área ainda passa por um grande desafio: o de dar uma nova roupagem ao texto, pois eles são padronizados pelas agências e enviados para todos os jornais. O uso exclusivo das imagens e textos de agências ocasiona uma monotonia na cobertura internacional. Como diz o autor, “a competência jornalística consiste em colocar uma linda cereja nesse mesmo bolo antes de servi-lo”.

É preciso saber falar inglês e espanhol fluentemente, haja vista que as agencias não dispõem mais de serviços em português. O jornalista precisa entender a “linguagem diplomática”. Mas isso não significa que os outros idiomas não sejam essenciais porque “a importância deles está diretamente associada à influência econômica e política dos países que os falam”. E, para quem ainda não atentou para o estudo das línguas estrangeiras, João Batista Natali avisa: “o jornalista monoglota é uma raça em extinção. Foi pelas editorias internacionais que eles começaram a ser extintos”.

O noticiário internacional vai além da cobertura de guerras e assuntos diplomáticos. Ele foi invadido pela onda “people”, composto pelas notícias das celebridades mundiais. O escritor utiliza a teoria de Theodor Adorno para explicar o motivo da atenção, com relação à curiosidade sobre os famosos, ser desviada da vida profissional dos artistas para a pessoal. Seria um “fetiche” da mercadoria cultural. As páginas dos jornais são invadidas pelo assunto porque “a fronteira entre o jornalismo e entretenimento nem sempre é muito nítida”.

História – O autor faz uma viagem na história do jornalismo internacional, que se confunde com a própria história do jornalismo. Nesse aspecto, João Natali desmistifica alguns lugares comuns dessa história. Para ele, acreditar que o setor surgiu no século XIX é um equívoco. Outro erro seria acreditar que a notícia se tornou “mercadoria” apenas com a consolidação do capitalismo, o que ocorreu já no mercantilismo.

O alemão Jacob Függer von der Lille, o mais importante banqueiro europeu nas primeiras décadas do século XVI, foi o criador da newsletter. Os agentes de Függer enviavam, regularmente, informações que afetariam os negócios. Natali diz que foi “o embrião do jornalismo econômico e político, voltado para assuntos internacionais”.

“Függer e seu embrião de newsletters impressas permitiam a manutenção de uma rede que fazia as informações circularem por circuitos paralelos aos utilizados por duas redes previamente existentes, a rede diplomática, que orientava monarcas, e a rede eclesiástica, que orientava dirigentes da burocracia na Igreja”, explica João Batista Natali. Dessa maneira, “a informação foi comercializada como instrumento para produzir eficiência e poder nos negócios”.

Esse é só um pequeno exemplo que demonstra que o “jornalismo não pode se apequenar, fornecer da atualidade uma visão que será negada pelos historiadores”.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Dependência e desenvolvimento na América Latina

Fernando Henrique Carodoso formou-se em Ciências Sociais, em 1952. No ano seguinte, tornou-se auxiliar de ensino da cadeira de Sociologia I. Em 1955, Florestan Fernandes, nomeou-o primeiro assistente. A geração de Fernando Henrique acompanhou a visita de Jean Paul Sartre ao Brasil, em 1960.

Na universidade era marxista e desenvolveu estudos sobre Karl Marx. Também tiveram influência sobre ele: Montesquieu, Tocqueville, Max Weber, Sérgio Buarque de Holanda e Joaquim Nabuco.

Em entrevista à Folha de São Paulo, em 1996, o próprio FHC definiu-se da seguinte maneira: “(...)Quer dizer, é preciso estar mais próximo da vida para poder fazer trabalho intelectual. Nunca fui intelectual do gênero somente 'ler autores'(...)tenho um pouco de aversão ao 'comentarismo'. Parece uma forma pobre de ser intelectual(...)Claro que é preciso ler bem e detidamente as coisas. Mas quando o sujeito tem força, vai ver o que está acontecendo na realidade, tenta explicar, tentar avançar. Senão você fica fechado no círculo, lê, relê, trelê, volta a ler, comenta uma coisa, comenta outra. Acho que aí cai no academicismo, no mau sentido”.

Em 1970, escreve juntamente com o chileno Enzo Faletto, “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, mais conhecida como a “teoria da dependência”. Ainda de acordo com a Folha, na teoria da dependência “o comércio internacional favoreceria os países ricos encarecendo os produtos de ponta e desvalorizando os produtos primários e pouco manufaturados dos atrasados, parecendo se manter, a não ser em casos monopolizados como o do petróleo, sendo aí vantagem estar no setor primário e não se livrar dele”.

Para FH, a ditadura militar favorecia o crescimento econômico e a modernização. E, esses eram fatores essenciais da democracia. José Carlos Reis, autor do livro As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC declara que Fernando “submete a paixão à razão”. Com isso, afirma que o sociólogo paulista, ao contrário de Darcy Ribeiro, não pensa emocionalmente. Ele tenta analisar imparcialmente os fatos. Segundo FHC, a justiça social só seria possível com o desenvolvimento do capitalismo e da civilização tecnológica. Os países estão interligados através de investimentos industriais. As empresas estrangeiras têm uma participação importante no “desenvolvimento” da América Latina. “Tanto o fluxo de capitais quanto o controle das decisões econômicas ‘passam’ pelo exterior”, diz FH. “As decisões de investimento também dependem parcialmente de decisões e pressões externas”. As multinacionais dominam os setores-chave da economia.

“O desenvolvimento do setor industrial continua dependendo da ‘capacidade de exportação’ de bens de capital e de matérias-primas complementares para o novo tipo de diferenciação do sistema produtivo (o que conduz a laços estreitos de dependência financeira), e ademais essa forma de desenvolvimento supõe a internacionalização das condições do mercado interno, que ocorre quando nas economias periféricas organiza-se a produção industrial dos setores dinâmicos da moderna economia. E, quando se reorganiza a antiga produção industrial a partir das novas técnicas produtivas”.

Em sua obra, FHC cita bastante a condição do México, que seria um exemplo para os demais países latino-americanos.

Há uma radicalização mais teórica, todavia mais política do que teórica. Ele faz uma reflexão sobre o método dialético materialista. Aponta dois equívocos da derrota de 1964: erros de interpretação e outros fatos novos que culminaram na aliança da burguesia com o imperialismo e as elites tradicionais. Dentre esses fatos, destacam-se: a Revolução Cubana, a atividade sindical, entre outros.

Fernando H. Cardoso e Gilberto Freyre aproximam-se no seguinte ponto: os dois transformaram coisas “maléficas”, em (digamos...) “benéficas”. No caso de Freyre a miscigenação e a escravidão viraram coisas normais, já para FHC, a postura dotada foi em relação à dependência dos países latinos, inclusive o Brasil.

Analisa a economia colonial, tenta enxergar a influência e as conseqüências da escravidão no Brasil. “O avanço e a modernização do capitalismo dependem do fim da escravidão”. Não apenas aquela escravidão dos negros africanos, mas também a diária, que ocorre no Brasil. Há dois tipos de industriais no Brasil: o associado ao capital estrangeiro, e aquele que conseguiu capitais adquiridos no trabalho da lavoura.

O desenvolvimento e a dependência podem existir em um mesmo país, no entanto não são associadas; elas existem separadamente.

Ele fala dos países latino-americanos dentro do contexto global, porém não esquece da especificidade de cada local.

Na conclusão do livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, FHC afirma que o principal objetivo é “reconsiderar os problemas do ‘desenvolvimento econômico’ a partir de uma perspectiva de interpretação que insiste na natureza política dos processos de transformação econômica”.

“A existência de um ‘mercado aberto’, a impossibilidade da conquista dos mercados dos países mais desenvolvidos pelas economias dependentes e incorporação contínua de novas unidades de capital externo sob a forma de tecnologia altamente desenvolvida e criada mais em função das necessidades intrínsecas das economias maduras do que das relativamente atrasadas fornecem o quadro estrutural básico das condições econômicas da dependência. Mas a combinação destas com os interesses políticos, as ideologias e as formas jurídicas de regulamentação das relações entre os grupos sociais é que permite manter a idéia de ‘economias industriais em sociedades dependentes’. Portanto, a superação ou a manutenção das ‘barreiras estruturais’ ao desenvolvimento e a dependência dependem, mais que de condições econômicas tomadas isoladamente, do jogo do poder que permitirá a utilização em sentido variável dessas ‘condições econômicas’”.

Fernando Henrique parece apoiar o que está acontecendo, a união com o capital estrangeiro. A obra dele possui elementos teóricos que a diminuem como teoria científica. O conceito de dependência é impreciso, ambíguo (dependência externa e estrutural). Também não tratou de uma possível ruptura da dominação capitalista, que teria como conseqüência uma revolução socialista. O estudioso Lawrence Harrison critica Fernando. Harrison acha que a “Teoria da Dependência - uma espécie de doença infantil da América Latina - escondeu aos latino-americanos o peso de sua herança cultural. Ora, FHC e Enzo Faletto podiam acreditar que os males da América Latina fossem devidos ao então proverbial imperialismo ianque. Mas eram ambos cultos demais para não ter uma idéia dos fatores propriamente culturais também em jogo. Resumindo: o Brasil teve um crescimento econômico assustador durante 20 anos e tem enfim instituições democráticas, mas não por isso realiza as condições mínimas de igualdade e comunidade de uma sociedade moderna. É culpa dos norte-americanos? Não. Então é uma questão cultural”, ele conclui.

Entretanto, a principal crítica que se pode fazer ao sociólogo é porque ao se eleger Presidente da República, mandou o povo brasileiro esquecer o que ele havia escrito. Prova do caráter volátil do digníssimo Fernando Henrique Cardoso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Pós-modernismo: a lógica do capitalismo tardio

A tese central do texto de Frederic Jameson afirma que o pós-modernismo seria uma extensão cultural do capitalismo tardio. Dessa forma, só existiria onde houvesse o desenvolvimento do capitalismo. Não havendo, portanto, numa sociedade indígena. Deve-se levar em consideração a época na qual a obra foi escrita: anos 80. Nesse período, o mundo passava por transformações, o muro de Berlim caíra. Isso reflete no texto de Jameson.

No pós-modernismo tudo é instável, inconstante, tem-se aversão a tudo que for de longa duração. Ao contrário do modernismo e suas idéias, originárias do final dos anos 50 e início da década de 60. Como exemplo dessa instabilidade tem-se os ataques terroristas de 11 de setembro (nos Estados Unidos) , 11 de março (na Espanha), 7 de julho (Londres). A população está totalmente vulnerável e o imprevisto pode acontecer a qualquer momento. Até o terrorismo é um espetáculo feito para ser televisionado.

Impera a sociedade do simulacro. As coisas são superficiais, não há tempo para nada, e muitas existem sem que se saiba as utilidades delas. A estética, o visual tem um papel relevante, já que como falta tempo para se aprofundar em algo, as primeiras impressões são fundamentais. Daí vem todo o apelo visual encontrado no mundo de hoje.
Nada é novo. A partir do instante que surge, passa a ser velho; graças à velocidade dos meios de comunicação. A humanidade é esquizofrênica - no sentido literal da palavra – haja vista que exerce múltiplos papéis. E essa multiplicidade é decorrente de uma característica do pós-modernismo: a heterogeneidade. Há coisa para todos os gostos, elas convivem paralelamente, como numa “bricolagem”, sem se misturarem.

O que importa é ser diferente. Enquanto no modernismo, “o diferente” estava longe de nós, no pós-modernismo ele está bastante próximo.

Há uma exacerbação da cultura, mas não porque seria um direito do cidadão ou algo do gênero. Essa revalorização ocorre porque a cultura consiste num mercado rentável. Tudo é feito para ser vendido. E, no centro dessa produção cultural estão os Estados Unidos, que fabricam a cultura deles para ser absolvida (leia-se imposta) pelo restante da população mundial. Esse fato não deixa de ser um reflexo da hegemonia econômica e política americana perante os demais países.

Jameson utiliza-se bastante da arquitetura para explicar as características do pós-modernismo. Através dela, prova que o indivíduo está mais propenso ao isolamento. Os grandes edifícios vão se transformando em verdadeiros feudos, onde não é preciso muito esforço para se encontrar o que quer.

O passado também não existe no pós-modernismo, caso igual ao da História, que contada pelos vencidos, estaria passível de erros. Até as produções cinematográficas que têm como enredo temas épicos, estão mais preocupadas em retratar a parte estética, como a arquitetura e a moda. A História fica apenas como uma “atriz coadjuvante”.

Outro aspecto que está em segundo plano no pós-modernismo é o afeto. Trata-se da era da falta de expressão e da ansiedade. “Nossa vida cotidiana, nossas experiências psíquicas, nossas linguagens culturais são hoje dominadas pelas categorias de espaço e não pelas de tempo, como o eram no período anterior do alto modernismo”, escreve Frederic Jameson.

Ao mesmo tempo em que há uma fragmentação na pós-modernidade, existe um sentimento de “coletivismo”, mas no sentido de que as pessoas não passam de números, são vistas como “mais uma”. O autor diz que “o desaparecimento do sujeito individual, ao lado de sua conseqüência formal, a crescente inviabilidade de um estilo pessoal, engendra a prática quase universal em nossos dias do que pode ser chamado de pastiche.” Isso seria “o imitar de um estilo único, peculiar ou idiossincrático, é o colocar de uma máscara lingüística, é falar em uma linguagem morta”.

O pós-modernismo não é para ser compreendido, apenas vivido. Porque do mesmo modo que o passado esmaeceu, não há perspectiva de futuro, não se sabe o que virá depois dele...

terça-feira, 27 de setembro de 2005

Cultura: um conceito reacionário?

Para Guattari a cultura é um conceito “profundamente reacionário. É uma maneira de separar as atividades semióticas”. Segundo o autor, a cultura não existiria isoladamente, se conjugada a ela não houvessem outros aspectos como o econômico e político.

Para entender melhor o pensamento de Guattari, vamos ver o significado da palavra “reacionário”. Conforme o dicionário Aurélio “1.próprio da reação; 2.contrário à liberdade”. Detendo-se no último, vê-se que a intenção de Felix Guattari seria afirmar que a cultura prende o indivíduo. Através delas os governantes obteriam o domínio da população mais facilmente.

Ao mesmo tempo em que a cultura segmenta, ela une pessoas que possuem pensamentos semelhantes.

Guattari diz que a “cultura de equivalência” seria um modo de controle da subjetivação. O capital seria um complemento. Enquanto a cultura ocuparia-se da sujeição subjetiva, o capital era responsável pela sujeição econômica.

No decorrer do texto, ele vai descrevendo as diversas formas de cultura. Por exemplo, a cultura de massa primaria pelo hierarquismo, entretanto a submissão seria velada, inconsciente.

A todo instante ele comenta acerca da influência capitalista na economia. “Não existe, a meu ver, cultura popular e cultura erudita. Há uma cultura ‘capitalística’ que permeia todos os campos de expressão semiótica. No fundo, há só uma cultura: a capitalística. É uma cultura etnocêntrica e intelectocêntrica”.

Acredito que o escritor é radical quando pensa que a cultura não existiria isoladamente. Mesmo ela isolando e “aprisionando” as pessoas, como afirma o conceito reacionário de Guattari, é mutável e passível de questionamentos. O que acontece é que os políticos utilizam-na erroneamente. E nem mesmo o autor tem certeza do que diz, verifica-se isso pelo título, em forma de pergunta. Cabe a cada um tentar preencher essa lacuna.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Matrix e Guattari

Pensadores, estudiosos, cineastas, músicos, artistas em geral, todos já notaram o poder da tecnologia e, no meio desse pandemônio, tentam descobrir suas identidades.

Vive-se num mundo no qual os homens são verdadeiros escravos dessa tecnologia. Tão subservientes que, um filme como Matrix, cuja crítica é sobre o poder exagerado da tecnologia, depende da mesma para reproduzir seus inúmeros efeitos especiais.

O que é real e o que é irreal? Não se tem mais noção. Segundo a teoria de Braudillard, no pós-modernismo ocorrerá o domínio do simulacro, onde será possível a substituição do mundo real por uma versão simulada tão eficaz quanto a realidade.

Ocorrerá ou já está ocorrendo? Em Matrix, há a dicotomia do personagem principal que se divide entre duas vidas, a real e a aparente, entre dois nomes, Anderson e Neo (verifica-se simbologia até no nome fictício dele: “Neo”, o “novo”). Quantas vezes as pessoas não se escondem atrás de nicks, em salas de bate-papo e preferem viver uma vida virtual à real.

Baseando-se na internet como sendo uma grande Matrix, também temos os processos moleculares citados por Guattari. Esses movimentos moleculares seriam os que prezam pela singularização dentro da rede mundial de computadores. Quais seriam? Os blogs, fotologs, entre outros.

No decorrer do filme, Morfeu diz a Neo que “Matrix é o mundo que acredita ser real para que não se perceba a verdade”. Intrigado, Neo pergunta qual seria essa verdade e ouve a seguinte resposta: “Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro. Nasceu numa prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente”. O pensador francês Félix Guattari também teria uma resposta para Neo. Se houvesse um diálogo entre Guattari e o personagem de Matrix, possivelmente ele diria que essa prisão mental poderia vir da cultura, já que ela é reacionária.

A cultura prende o indivíduo do mesmo jeito que a Matrix “cegou” Neo. A realidade choca. Quando Neo a enxerga diz a Morfeu: “Por que meus olhos doem?” Ele prontamente afirma: “É porque você nunca os usava”. Pensamento semelhante ao da cantora baiana Pitty, que na música intitulada Admirável Chip Novo fala: “Pane no sistema alguém me desconfigurou, aonde estão meus olhos de robô? Eu não sabia, eu não tinha percebido (...) nada é orgânico, é tudo programado e eu achando que tinha me libertado”.

Assim, pensando que está livre, o homem não conheceria o real, acreditaria no falso como sendo verdadeiro. Até mesmo no que diz respeito à reprodução humana, Matrix mostra os desejos humanos de querer perpassar a biologia, criando homens em série e em cativeiros.

Quanto à memória e identidade do homem, no pós-modernismo é tudo instantâneo. Esquece-se do passado. É tudo muito rápido, como nos computadores, no qual basta apenas um click para apagar anos de trabalho e história. Como construir uma identidade nessas condições? Como a identidade multifacetária e com a ajuda da cultura – mesmo ela sendo reacionária – as pessoas através de sua individualidade, seus “devires” podem construir uma identidade própria. Essa é a luta de Neo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

O jornalismo solidário e a ética da jornalista Xinran

A escritora Xinran cumpriu o seu verdadeiro papel de jornalista – esquecido por alguns profissionais atualmente - e de cidadã ao escrever o livro As boas mulheres da China. Através do poder concedido à mídia e ao jornalista (ao se fazer público), ela deu voz às milhares de chinesas injustiçadas e mostrou ao mundo o que se passa no país mais populoso do mundo. Ela nos forneceu uma visão não apenas de uma jornalista, mas de uma chinesa, que lidava diariamente com os problemas aos quais se referia.

Mesmo após ter o livro transformado em best-seller, a jornalista nunca usou a fama com outro propósito que não fosse ajudar suas compatriotas. Apesar de ser perseguida, colocar a vida em risco, ela não fraquejou ao se arriscar para ver o que escreveu ser lido por milhões de pessoas em todo o mundo.

A solidariedade e a ética da obra de Xinran estão justamente nisso: contar uma história verídica, objetivando uma melhoria, dar o direito do mundo saber o que acontece numa civilização milenar que, até hoje, é lembrada pela tortura, mas que ao mesmo tempo almeja uma reabertura político-econômica num mundo globalizado.

E é nesse contexto de globalização que o livro As boas mulheres da China é importante. A preocupação com os Direitos Humanos e a idéia de avanço na civilização fazem o leitor sentir-se chocado ao constatar os absurdos cometidos na China. Xinran ainda
é ética ao relatar as histórias de diversas chinesas de uma forma delicada, protegendo a identidade delas (verifica-se isso na “nota da autora”, ao avisar que os nomes foram modificados).

Não ser só redatora, mas também personagem, esse é o diferencial de Xinran, que viu no livro uma forma de lutar por direitos iguais numa China machista e invadida por preconceitos oriundos, principalmente, da diferença de pensamentos e ideologias.

domingo, 4 de setembro de 2005

"É cum a dor!"

Pela primeira vez estou tendo a oportunidade de olhar a colonização brasileiras pelos olhos do colonizador. Não é bem a brasileira, mas... vou explicar...

Estou lendo o livro “Equador” do português Miguel Sousa Tavares na verdade ele é uma ficção, mas tem muito de história portuguesa. O autor mistura a história da colonização de São Tomé e Príncipe com a de Luís Bernardo, um bon vivant que é escolhido pelo rei Carlos dr Bragança para ser governado da menor província lusa na época (início do século XX).

É engraçado porque os Estados Unidos são o que são porque bem herdaram os genes dos ingleses!! Em 1906, o país de Bush não era o império que é hoje. Quem dava as cartas era a Inglaterra, como todos já sabem que acontecia até o final da Segunda Guerra Mundial.

Então... os ingleses, que diziam querer acabar com a escravidão, se incumbiram de fiscalizar os demais países, dentre eles Portugal, para que não fossem mais levados negros da África para as colônias.

Só que muitos negros saíam de Angola para trabalhar em São Tomé... Eles eram “contratados”. Não preciso chegar até o fim do livro para saber que espécie de contratos eram esses...

O papel de Luís Bernardo é fazer com que a opinião do cônsul inglês acerca de São Tomé mude. Portugal não quer ter a imagem de última nação a explorar os negros africanos. Daí, o desenrolar da história não sei (e não contaria para não perder a graça, né?) porque ainda to na página 150 e o livro tem mais de 500! Hehehehe

Mas vamos ao que de fato me chamou atenção. Os ingleses só estavam interessados em tomar São Tomé de Portugal, pois ele era um grande produtor de cacau (só perdia para a Bahia) e com isso usavam o pretexto da escravidão.

Em certa parte do livro, o governador de Angola fala que os preconceituosos não são os portugueses, mas sim os ingleses. O argumento dele? Como se deu a colonização em Angola, por exemplo? Como se deu aqui no Brasil, hein? A diferença da de Angola para a do Brasil é apenas o nome dos países. Como foi que um país pequeno e pouco povoado construiu um verdadeiro império? Era preciso “povoar”!

Os portugueses do Alentejo, os mais pobres e aventureiros que não tinham nada a perder ganhavam fazendas em Angola, viravam “donatários”. Mas para isso era preciso que eles “achassem” a terra, ou seja, embrenhavam-se pelo interior da África. Aqueles que achavam as “fazendas” pegavam uma ou duas negras como “esposas”. A única exigência de Portugal era que se ensinasse o português aos “mulatinhos”. Voilà!! Hoje temos uma África que fala lusófona!!

Já os ingleses preferiam levar a família e tentar a vida num lugar totalmente desconhecido e nunca tinham filhos pardos, não “se misturavam”. É tanto que nos Estados Unidos até hoje existem verdadeiros guetos.

É assim que nascemos também... e não neguemos nossas origens lusas, pois muito do “jeitinho brasileiro” tem da maneira portuguesa de ser, notaram?

* O título foi esse porque se especula que "Equador" venha da contração do português arcaico "É cum a dor".

Ótima entrevista com o autor de Equador!

terça-feira, 30 de agosto de 2005

Cultura: um conceito antropológico

No livro Cultura: um conceito antropológico, Roque de Barros Laraia abrange algumas das teses antropológicas que visavam responder determinadas questões relacionadas à cultura.

Inicialmente, os estudos apontavam as características genéticas como grandes influenciadoras da personalidade humana. E, mostrando-se logo no começo da obra, como um “determinista cultural”, o autor fala que independente dos genes, o que prevalece é a cultura. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade.” Ele diz que até a divisão do trabalho por sexo é um aspecto meramente cultural.

No decorrer da obra, Roque cita o Determinismo Geográfico, o qual afirmava que as diferenças no ambiente físico afetavam a diversidade cultural. Entretanto, em seguida o escritor comenta que na década de 20, há uma quebra desse conceito. “E possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.”

A cultura é seletiva, explora “determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura”. Laraia ratifica, baseado nos estudos antropológicos modernos, que “as diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são imposta pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente”.

Edward Tylor criou o termo culture, advindo da junção da palavra alemã Kultur, que estava relacionado aos aspectos espirituais, e do vocábulo francês civilization, que seriam os feitos materiais. Dessa forma, cultura era toda a possibilidade de realização humana.

O autor destacou estudos realizados antes do surgimento do termo culture. Foi o caso de John Locke. Em 1690, escreveu Ensaio acerca do desenvolvimento e demonstrou que a mente do homem seria uma “caixa vazia”, com a possibilidade de adquirir conhecimento. Era através dessa aquisição, que ia sendo preenchida.

Influenciado pela teoria evolucionista de Darwin, Tylor acreditava que a humanidade estaria dividida em estágios da civilização. A européia seria a mais avançada. O autor já demonstrava com isso uma característica até hoje comum: o etnocentrismo. A cultura se desenvolveria de maneira uniforme, linear. Em um dos capítulos do livro, Roque de Barros Laraia fala exatamente o oposto: “a cultura é dinâmica”.

Stocking critica Tylor ao dizer que ele esqueceu do relativismo cultural dos múltiplos caminhos da cultura.

Contrário ao evolucionismo, apareceria o alemão Franz Boas. Ele atribuiu a Antropologia Moderna:


a) a reconstrução da história de povos de regiões particulares;
b) a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

Quanto à cultura, teria surgido a partir do aparecimento da primeira regra: a proibição do incesto. Ela seria abstrata e, contraditoriamente, por essa razão, era impossível determinar “onde, como e por quê” surgiu.

O autor tenta deixar claro que apesar do homem ser um animal, a cultura afasta-o definitivamente desse aspecto. “O homem ao adquiri-la perdeu a propriedade animal. Tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura”.

A cultura funciona como códigos binários. Existiriam culturas diferentes porque elas organizariam esses “códigos” de maneiras distintas. Ela é possuidora de lógica própria, então é inadequado se dizer o que é “certo” e “errado”. Ao se fazer isso, o julgamento corre o risco de ser etnocêntrico.

A cultura influencia até mesmo no plano biológico e a tendência é o crescimento dessa influência. Os indivíduos não participam de todos os aspectos dela, e nem o fazem igualmente. “Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. Isto porque, como afirmou Marion Levy Jr., ‘nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade não são todos os habitantes igualmente bem socializados, e ninguém é perfeitamente socializado. Um indivíduo não pode ser familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade; pelo contrário, ele pode permanecer completamente ignorante a respeito de alguns aspectos. Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo. Além disto este conhecimento mínimo pode ser partilhado por todos os componentes da sociedade de forma a permitir a convivência dos mesmos”.

A análise de outras culturas, se não a nossa, é complicada, já que quando não se está inserido em uma determinada cultura, pode-se ser considerado “cego culturalmente”.

Conclui-se que mesmo o autor sendo parcial, e exaltando a cultura em detrimento da natureza, ele não “fecha” nenhum pensamento. Coloca pontos diversos, teorias distintas, porém destaca sempre a cultura e quer confirmar que tudo é determinado por ela. Aí está a grande falha de Laraia: a cultura é limitada.

sábado, 27 de agosto de 2005

O caminho das nuvens

As bicicletas têm um papel muito além do de meio de transporte ou de meras coadjuvantes no filme “O caminho das nuvens”. A bicicleta é o elemento de ligação e, em certos casos, de desunião entre a família de retirantes nordestinos que percorrem mais de três mil quilômetros da Paraíba até o Rio de Janeiro, acreditando num futuro melhor.

É tendo as bicicletas como único meio de não se separar da família e ir em busca do seu sonho, que Romão sai destinado atrás de um emprego e uma vida digna para os que dele dependem. Ao viajarem juntos, a união e dependência dos familiares aumentam.

Um exemplo da bicicleta como fator que favorece a desunião fica explícito no momento em que há uma briga entre o casal principal. Romão (Wagner Moura) afirma que a viagem torna-se mais difícil por ser em bicicletas (“fura pneu, se machuca”) e fala que a esposa não sabe andar direito, o que a deixa irritada e causa momentos de tensão entre Rose (Cláudia Abreu) e o esposo. A bicicleta também é o único elo entre a Antônio, o filho mais velho, e a família quando ele decide “tomar as rédeas da vida” e tornar-se um adulto.

A todo o momento é questionada a atitude de Romão de percorrer mais de três mil quilômetros de bicicletas e com filhos pequenos (no início do filme, o caminhoneiro pergunta se é promessa), é como se o fato de não ter nada, lugar para morar, comida, roupa não tivesse importância. O que realmente é levado em consideração é o posicionamento do protagonista de utilizar as bicicletas.

Como afirma o ator Wagner Moura “a imagem da bicicleta é uma coisa muito poética”. E, é com esse lirismo que o enredo vai se tornando leve, suave e romântico. Com as bicicletas, os viajantes dependem, quase unicamente, do próprio esforço físico, da coragem. Eles não precisam alimentar nem abastecer o meio de transporte escolhido. As únicas coisas que “abastecem” a viagem são a alegria, a esperança e a união.

As bicicletas são as companheiras, estão presentes em todo o decorrer do filme. Até mesmo quando não são usadas, elas estão lá, paradas, inertes, como expectadoras e agentes influenciadores do filme.

A primeira coisa que Rose questiona ao viajar num caminhão (primeira vez que teriam de desfazerem das bicicletas) é: “E as bicicletas, podemos levar as bicicletas?” Elas são marco de um passado miserável e crença num futuro melhor, lembrança da terra deixada para trás e meio para chegar num lugar melhor.

domingo, 21 de agosto de 2005

Recife também é rock francês!


Se você encontrar, por acaso, uma banda de rock francês chamada “Recife” pode acreditar: não é mera coincidência! O grupo foi assim batizado por causa da capital pernambucana. “Nossa música não tem origem brasileira, mas nosso disco demonstra alguns dos sentimentos os quais senti ao visitar o Brasil, além de remontar a algumas imagens fortes do país, dentre elas as de Recife”, fala Yvan Mercier, vocalista e guitarrista do conjunto, que se diz um fã de Lenine. Para ele, “Recife é o ponto de partida de certas idéias ou de pedaços de composições sonoras”.

Formado em fevereiro de 2002 por Yvan e Sébastien Trouillot (voz e piano), Recife é composto ainda por Stéphane Dégremont (guitarra), Alain Moyal (baixo) e Emmanuel Deniaux (bateria). Os rapazes de Toulouse (cidade do Sul da França) se definem como um estilo que mescla o pop/rock, mas que também tem influências eletrônicas. Isso fica claro ao se escutar São Paulo (realmente nota-se que o Brasil marcou as composições do grupo!) e L’interstice, nas quais há uma forte presença da guitarra, assim como dos acordes do piano.

Na verdade, não existe um estilo que defina precisamente o som de Recife, que ainda flerta com o trip-hop, o clássico e a música psicodélica dos anos 70. Também não se trata de algo feito para vender, já que os componentes mostram maturidade (a idade varia dos 30 aos 35 anos) em suas canções.

Um fato importante na construção sonora do grupo dos rapazes de Toulouse foi a estada de Yvan na ilha de Amsterdã, território situado entre a África do Sul e a Austrália. O isolamento ajudou-o a formar os primeiros traços sonoros de uma maneira “anárquica e emocional”, como define Yvan.

Pouco tempo depois de retornar à França, Yvan veio ao Brasil. Após passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife “os sons começaram a se formar e se mesclar, mas foi em Recife que eles terminaram de nascer. As cores e as luzes abrasivas que iluminam a cidade do Recife correspondem bastante a nossa música”. Pelo que fala Yvan, as imagens são grandes fontes de inspiração para o processo de criação musical da banda.

Mas qual seria o grande sonho do grupo? “Queremos muito tocar em Recife, seria algo totalmente inacreditável!”

Site oficial

sábado, 20 de agosto de 2005

Visão (errônea!) da América Latina

Como é terrível a visão que os americanos tem dos latinos, inclusive nós, brasileiros!! Porque é isso que somos: LATINOS!! O pior é que os jovens, por um lado não tem culpa alguma, pois isso já vem de gerações.

Assisti a uma palestra lá na Fundação Joaquim Nabuco com o professor João Feres Junior. Ele falou tudo que eu pensava quando criei o título “Entra por osmose”. O nome da palestra foi América Latina: a construção de um conceito.

Vamos lá... A tese de Feres se baseava mais ou menos na seguinte percepção: A (pertencente a sua cultura) enxerga B como se fosse sua contra-imagem, ou seja, em outras palavras, a visão de determinada cultura através do etnocentrismo.

Levando em consideração esse conceito, os latinos são vistos pelos estadunidenses (sim... é bem melhor do que dizer americanos, já que nós também o somos!! Afinal moramos na América, não?!) como:: extravagantes na aparência, orgulhosos e mulherengos!!

O termo América Latina é de origem francesa, só no final do século XIX, começo dos XX foi que começou a ser usado nos EUA. Antes o que corresponde a “América Latina” era chamado de Spanish America, ou América Espanhola, em português. Olha aí já a generalização... por acaso somos descendentes de espanhóis? Um país tão imenso, que fala português, considerado parte de uma América “ESPANHOLA”!!

O curioso é que os estadunidenses criavam conceitos e mais conceitos, faziam estudos e mais estudos, mas sem terem qualquer contato com os hispânicos. Daí o favorecimento da construção de estereótipos, haja vista que eles existem para simplificar algo – por exemplo, a cultura – extremamente complexo.

Mesmo distantes dos latinos, eles criaram uma imagem desse povo por conta da imagem já produzida acerca dos espanhóis. É aquela velha história: “Filho de peixe, peixinho é!”

Quando foram anexar os territórios mexicanos, os Estados Unidos afirmavam que devido ao sangue, raça e culturas diferentes dos latinos, eles não se enquadrariam ao sistema político americano. Caso os territórios fossem anexados, os mexicanos deveriam ser tratados como colonizados. Os habitantes de possessões como Porto Rico, Havaí, não são considerados “americanos” justamente em decorrência desse fato.

Os Estados Unidos se plocamaram “tutores do mundo”. Antes o grande tutelado era a América Latina. Hoje quem são? Nem precisa perguntar, né? Os estadunidenses “supervisionavam” os paises latinos para verificarem se eles estavam “cumprindo as leis”. Por incrível que pareça não é só o islamismo que foi uma pedra no sapato dos EUA. Há décadas, o “problema” era o catolicismo!! A espiritualidade impedia o pragmatismo, que auxiliava “a incapacidade nata para modernização”, isso porque ajudava na manutenção de um tipo de “feudalismo”. Para Richard Morse a “América Espanhola” não tem história porque o passado ainda é presente. Eles nos viam (ou melhor, nos vêem) como eternamente atrasados.

O que fez os estudos sobre a América Latina aumentarem foi a Revolução Cubana em 1959. E, através da teoria da modernização, pretendia-se promover o crescimento do capitalismo nos paises subdesenvolvidos. Em outras palavras, totalmente em sintonia com os interesses dos EUA, eles queriam bloquear o crescimento do comunismo na América Latina. Como fazer isso? Simples, ué! Até hoje eles fazem! Colonizando os pobres coitados latinos através da cultura enlatada deles! E pior é que mesmo que a gente não queria, ela... entra por osmose!

Mas durante a palestra João Feres Junior faz uma pergunta e ele próprio a responde. Será que os Estados Unidos não têm traços coloniais? E os guetos e as relações raciais entre eles? Segundo João Feres, isso fez com que eles se tornassem “acríticos do eu”.

Eles nos vêem como violentos. Mas o que é a história americana se não um imenso derramamento de sangue?! Isso me faz lembrar o documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine, no qual os bonequinhos do South Park mostram a história dos EUA. Eles (ingleses das Treze Colônias) acabaram com os índios, depois os primeiros que nasceram nos EUA, brigaram com os ingleses pela independência, lutaram na Guerra de Secessão, depois dizimaram os mexicanos; jogaram duas bombas atômicas no Japão; sem contar na Guerra do Vietnã, Iraque...

E o que é de morrer de rir são as capas dos livros sobre os estudos latinos. Sempre os EUA são representados por um “adulto”, geralmente o tio Sam, enquanto que os latinos são crianças irreponsaveis, negras (não tem índio por aqui?) ou eles ilustram os livros de “História MODERNA da América Latina” com imagens pré-colombianas! Nossa... que modernidade!! Acho que ainda acreditam que vivemos em ocas!

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Bel-Ami



Vi um filme francês chamado “Bel Ami”. De uns tempos para cá, estou obcecada pelo cinema francês. Mas isso não vem ao caso agora. O que interessa realmente é a história: a de um jornalista corrupto, inescrupuloso, que se utiliza de contatos (leia-se amantes) para subir na vida e na profissão.

A cada dia fico mais triste com o que está acontecendo com o mundo e com o jornalismo, com a profissão que escolhi. No entanto, o que mais me entristece é saber que a “sacanagem” sempre existiu e sempre existira. É isso mesmo! Por mais que lutemos para mundo a cruel realidade a nossa volta, é (quase impossível mudá-la).

Lembro quando sonhava em comover o universo com minhas histórias, em fazer algo útil pela sociedade. Agora vejo que – talvez - não passou de uma ilusão. O próprio mundo não quer (ou talvez não aceite) ser mudado. O que vi durante os anos da faculdade foram ideologias caindo, cortinas se abrindo e a verdade (aquela verdadeira) aparecendo.

O jornalista não passa de um assalariado, o jornal de uma mercadoria, um negócio. É duro acreditar, mas é assim que é. Aqui não cabem interrogações, porém apenas “pontos finais”. Uma passagem do filme (que se passa na época da colonização da Argélia e do Marrocos, portanto deve ser no século...) me fez ratificar minha opinião. O chefe da redação diz ao aspirante à jornalista: “Isso aqui só serve para sustentar os negócios do Monsieur Walter [dono do jornal] , mesmo assim você quer continuar?”

É para isso que servimos... outra cena marcou minha visão do filme e do que é ser um jornalista e me fez refletir um pouco. Tendo que duelar por conta de uma notícia, o jornalista Georges Duroy comenta: “Será que não existe uma vida mais fácil?” Em um certo momento, ele questiona o motivo de fazer aquilo, arriscar a vida, por conta de uma informação.

Sem contar que nem sempre o que se lê nos jornais é verdade. A ghost writer de Duroy diz a ele que “é preciso enfeitar a realidade, floresce-la” para não torna-la enfadonha. Depois que comecei a estudar jornalismo, pergunto a mim mesma o que seria verídico ou não. Deixo claro que não quero ser a dona da verdade, só não pretendo ser iludida. Se bem que a verdade é bem relativa e nenhum ser humano é totalmente imparcial.

A todo momento atormento-me por, no dia de minha formatura, ter que fazer um juramento que não sei se serei capaz de cumprir e... quantas pessoas já não o quebraram e quantas ainda não farão o mesmo?

Chamem-me de pessimista, mas se pararem para pensar...

Le journalisme dans Bel-Ami

O povo brasileiro - Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Antropologia, em São Paulo, e dedicou parte de seus anos ao estudo dos índios, do Pantanal, da Amazônia e do Brasil Central. Fundou o Museu do Índio e o Parque Indígena do Xingu. Defendeu veemente a causa indígena. Criou a Universidade de Brasília; foi Ministro da Educação e Ministro-Chefe da Casa Civil.

Na sua obra, Darcy Ribeiro trabalha com três matrizes culturais. Ele começa descrevendo como ocorreu o surgimento do povo brasileiro. Segundo ele, tratava-se de um novo povo, que se enfrenta e se funde. Para ele, os costumes indígenas – que ofereciam uma moça índia como esposa aos recém-chegados – foi importante no processo de formação do povo brasileiro. O que era um costume dos índios, para o colonizador branco era uma maneira de ocupar a terra e explorar os nativos.

Era necessário refletir sobre a nossa formação, e isso nos remete às origens, à história que fomos construindo. “O tema que me propunha agora era reconstruir o processo de formação dos povos americanos, num esforço para explicar as causas do seu desenvolvimento desigual”, escreve o autor na introdução do livro “O povo brasileiro”.

Segundo Darcy, havia três teorias que ajudariam na compreensão do povo brasileiro:

Þ Teoria da base empírica das classes sociais. “Havendo lutas de classes, existiriam blocos antagonistas embuçados a identificar e caracterizar”.

Þ Tipologia das formas de exercícios do poder e de militância política.

Þ Teoria da cultura, capaz de dar conta das nossas realidades.

Através da junção desse conjunto teórico proposto por Ribeiro, ele formou uma teoria, até então inédita.

Entretanto, para aqueles que pensam encontrar imparcialidade na obra feita por ele, Darcy Ribeiro alerta: “faço política e faço ciência movido por razoes étnicas e por um profundo patriotismo. Não procure aqui, análises isentas”. Para o autor, o objetivo do livro é “ser participante, que aspira influir sobre as pessoas, que aspira ajudar o Brasil a encontrar-se a si mesmo”.

Ao falar sobre “distância social” no capítulo “Classe, cor e preconceito”, do seu livro intitulado “O povo brasileiro”, Darcy Ribeiro afirma: “a eleição é uma grande farsa em que massas de eleitores vendem votos àqueles que seriam seus adversários naturais. Por tudo isso é que ela se caracteriza como uma ordenação oligárquica que só se pode manter artificiosa ou repressivamente pela compreensão das forças majoritárias às quais condena ao atraso e à pobreza”.

Os descendentes dos grandes senhores, que compõem a classe dominante acreditam que a situação social dos negros livres, mulatos e brancos pobres são características da raça. Não se vê a má condição social como conseqüência da escravidão e da opressão. Darcy Ribeiro diz que o preconceito em si não acontece devido à raça e sim à cor da pele. “A luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi – e ainda é – a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional”.

Ele declara que o mulato sendo o resultado da miscigenação do negro com o branco, participa desses dois mundos. Isso o faz também ter o lado erudito do branco. Porém, eles só progrediriam se negasse à negritude possuída. “Posto entre dois mundos conflitantes – o do negro, que ele rechaça, e o do branco, que o rejeita – o mulato se humaniza no drama de ser dois, que é o mesmo de ser ninguém”.

Ainda sobre a questão negra, assim como Gilberto Freyre, Darcy escreve acerca da influência negra no idioma. “Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda”.

Ribeiro fala que cada grupo étnico vai perdendo sua identidade. “Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em conseqüência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a florescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor”.

Conforme afirma o autor “prevalece, em todo o Brasil, uma expectativa assimilacionista, que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branquização progressiva”.

Apesar de todo o preconceito vigente no Brasil, esse ocorre, como já foi dito, pela cor da pele. “Se a pele é um pouco mais clara, já passa a incorporar a comunidade branca. Acresce que aqui se registram, também, uma branquização puramente social e cultural”. Ele diz que a miscigenação modifica o biótipo do brasileiro.

Mesmo com toda a miscigenação, e sendo o Brasil multicultural, ele não é homogêneo. A ecologia, economia e imigração fomentaram as distinções verificadas no brasileiro, que povoa esse vasto território. No entanto, “os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia”.

Diferentemente do apartheid, onde mesmo mantido distante dos brancos, os negros podem manter sua identidade, no regime assimilacionista, os negros perdem-na, já que é diluída gradativamente. “A democracia racial é possível, mas só é praticável conjuntamente com a democracia social. Ou bem há democracia para todos, ou não há democracia para ninguém, porque à opressão do negro condenado à dignidade de lutador da liberdade, corresponde o opróbrio do branco posto no papel de opressor dentro da sua própria sociedade”. (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro, página 227)

No livro “O povo brasileiro”, Darcy escreve: “pude sentir, no exílio, como é difícil para o brasileiro viver fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos”. Em outras palavras, acusa o brasileiro de ser um povo xenófobo. Com isso, prova não ser parcial, conforme ele mesmo havia dito.

Encerro a análise com esta citação de Darcy Ribeiro, que não deixa de ser “esperançosa”: “todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles homens, mulheres e crianças. Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra esta herança maldita nos dará forças para, amanhã, conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária”.

Ué, entra por osmose!!

Vou explicar o motivo de ter feito o site "Entra por osmose". Quem me conhece sabe que adoro escrever. Já estou terminando o curso de jornalismo (se Deus quiser e se e conseguir terminar o meu projeto de conclusão!) e muitos textos estavam ficando "perdidos". Aqui vocês encontrarão textos, dicas de livros, filmes, bandas... Tudo que eu achar de diferente e tiver vontade de escrever! =P

O significado de "entra por osmose" é porque eu estava pensando na cultura americana, ou melhor, americana nada... dos Estados Unidos!! Como nós somos colonizados culturalmente e nem que a gente tente resistir, não dá! Ela... entra por osmose!! Sei que está parecendo um pouco sem sentido. Mas, de certa forma, vocês leiam meus textos, nem que para isso eles tenham que entrar por osmose. Completamente non-sense esse post, mas tudo bem... ainda teremos outros!!

Ah... em breve espero que o design do site mude. Só o que falta é a boa vontade de um amigo para tirarmos essa coisinha sem graça desse template "comum de todos". :)