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sexta-feira, 28 de março de 2008

Se todos se importassem...

Este post é dedicado a todos aqueles que lutam por um mundo mais igual e justo, para os que não perderam a fé de que ainda é possível haver uma mudança. E também para os que não acreditam. Talvez, ao olhar os exemplos do vídeo, sintam-se tocados.


quinta-feira, 20 de março de 2008

Noam Chomsky, Timor Leste e os discursos oficiais e oficiosos

O terror do Timor Leste, em 1999, poderia ter sido evitado. Aliás, não só ele, como o de Ruanda, o do Quênia e de tantos outros países. Ele poderia ter sido evitado se os Estados Unidos (país auto-intitulado como o “guardião do mundo”) não tivesse, primeiramente, colaborado com as milícias ou se, ao menos, tivessem tomado providências simples como apenas um diálogo com as forças armadas indonésias (TNI).

A Indonésia invadiu o Timor Leste (ex-colônia portuguesa) três dias após sua independência, em 1975, com o apoio diplomático dos EUA e com armas fornecidas pelos estadunidenses. Segundo Noam Chomsky (no capítulo “Sinal verde” para os crimes de guerra do livro Uma nova geração define o limite) “bastaria, muito provavelmente, que os Estados Unidos e seus aliados retirassem a sua participação e informassem a seus sócios no comando militar indonésio que as atrocidades tinham de terminar e que era preciso assegurar ao território a autodeterminação estabelecida pelas Nações Unidas e pelo Tribunal Internacional de Justiça”.

Mas os EUA tinham medo, pavor de que a Indonésia (um país visto como independente e democrático) caísse nas mãos dos soviéticos. E nada mais do que a sede pelo poder moveu a estratégia político-diplomática estadunidense. No texto de Chomsky, ele afirma que, na época, dois especialistas na Ásia do New York Times explicaram que “a administração Clinton ‘calculou que os EUA precisam pôr suas relações com a Indonésia, um país de grande riqueza mineral e mais de 200 milhões de habitantes, acima de considerações sobre o futuro do Timor Leste, pequeno e empobrecido território de 800 mil habitantes que busca a independência”. Poder-se-ia presumir, dessa forma, que a Indonésia era extremamente importante, já o Timor Leste, algo irrisório. Porém os EUA sabiam que era preciso ter controle sobre aquele local. Necessitava-se de passar pela crise - que culminou na morte de milhares de timorenses - com segurança, pois aquela ilha não passava de um “quebra-molas” na relação Indonésia-EUA.

5 de maio de 1999 foi o dia no qual Indonésia e Portugal, apoiados pela Organização das Nações Unidas, concordaram que cabia ao povo escolher se o Timor Leste seria ou não independente. O referendo foi marcado para 8 de agosto, depois adiado para o dia 30. Meses antes, quando o então presidente B. J. Habbie (em maio de 1998, Suharto, por sugestão dos Estados Unidos, deixara o cargo para Habbie, vice-presidente) anunciara uma escolha democrática, as intimidações se iniciaram. Os timorenses não temeram e, numa demonstração de cidadania e patriotismo, foram às urnas – alguns saíram até de esconderijos – e cerca de 80% da população foi a favor da independência.

A alegria virou dor... De acordo com a ONU, os paramilitares e o TNI expulsaram aproximadamente 750 mil timorenses dos 880 mil que habitavam a ilha. A maioria foi para o Timor Oeste indonésio. 70% do país foi destruído e cerca de 10 mil pessoas foram mortas.

Os Estados Unidos não podiam deixar o mundo olhar para o Timor Leste, pois quem treinou a milícia?! Era preciso chamar a atenção para Kosovo e fazer a mídia focalizar-se nesse outro drama. “O apoio direto dos EUA à ocupação Indonésia ficou mais difícil depois que centenas de pessoas foram massacradas em Dili em 1991, atrocidade que não poderia ser suprimida ou negada porque foi secretamente filmada pelo repórter fotográfico Max Stahl e exibida pela televisão na Grã-Bretanha e nos EUA, e porque dois jornalistas americanos, Alan Nairn e Amy Goodman, que foram severamente espancados, puderam fazer reportagens como testemunhas oculares. Como reação a isso, o Congresso proibiu a venda de armas de pequeno porte e cortou verbas destinadas a treinamento militar, obrigando o governo Clinton a recorrer a manobras intrincadas para escapar das restrições legislativas, como fazia com relação à Turquia na mesma época”, alega Chomsky.

Noam Chomsky, como teórico crítico, tenta apresentar a diferença do discurso oficial para o “oficioso”. Um exemplo disso é quando ele fala o seguinte: “O Departamento do Estado comemorou o aniversário da invasão indonésia determinando que ‘a lei do Congresso não proíbe que a Indonésia pague pelo treinamento com seus próprios recursos”, de modo que o treinamento poderia prosseguir, apesar da proibição, com Washington provavelmente tirando dinheiro de algum outro bolso. O anúncio foi pouco noticiado e comentado na imprensa, mas levou o Congresso a expressar sua ‘indignação’, reiterando que ‘era e é intenção do Congresso proibir treinamento militar para a Indonésia’ (Comissão de Apropriação da Câmara): ‘Não queremos que funcionários do governo dos EUA treinem indonésios’, reiterou um funcionário, com veemência, mas inutilmente.”

O discurso oficioso britânico, conforme afirmava o ministro tatcherista, Alan Clark era: “Minha responsabilidade é para com o meu povo. Na realidade não me preocupo muito com o que um grupo de estrangeiros está fazendo com outro grupo de estrangeiros. Enquanto o oficial era o de “um novo humanismo”, no qual EUA e Grã-Bretanha davam-se as mãos.

O embaixador dos EUA na ONU, Richard Holbrooke, durante o governo Carter, era responsável de seguir à risca o apoio às agressões e matanças, contanto que, a Indonésia não caísse nas mãos dos comunistas. Até essa época (entre as décadas de 70 e 80), 200 mil pessoas morreram. “A história é reconstruída, entretanto, para oferecer uma imagem diferente. Desfeito o passado, Holbrooke é apresentado como um herói da ‘mais rápida reação [a atrocidade] na história da manutenção da paz pela ONU’, e ‘a primeira vez na era pós-Ruanda e pós-Srebrenica em que o Conselho de Segurança enfrenta de imediato uma situação de emergência’ – ou seja, depois que o país foi destruído e sua população expulsa ou morta, de acordo com planos que seguramente eram conhecidos de antemão em Washington.”

É preciso se ter a coragem do povo timorense para lutar e dizer NÃO a tudo o que for contrário à democracia. Diz Chomsky que “a história não começa em 1975. O Timor Leste não tinha sido deixado de lado pelos planejadores do mundo pós-guerra. O território deveria ter se tornado independente, cismava o principal conselheiro de Roosevelt, Summer Welles, mas ‘isso levaria certamente mil anos’. Com uma coragem e uma firmeza dignas de admiração, o povo do Timor Leste lutou para desmentir essa previsão, suportando desastres monstruosos”. Que isso nos sirva de lição.

Para saber mais:



Uma nova geração define o limite

Editora: Record
ISBN: 8501063983
Ano: 2003
Edição: 1
Número de páginas: 174




Timor Leste - O Massacre que o Mundo Não Viu

Diretora: Lucélia Santos
Tempo: 75 minutos
Ano de Lançamento: 2005
Recomendação: 14 anos
Legenda: Espanhol, Português, Inglês
Idiomas / Sistema de Som:
Português - Dolby Digital 2.0
Português - Dolby Digital 5.0
Pais de Origem: Brasil