Pensadores, estudiosos, cineastas, músicos, artistas em geral, todos já notaram o poder da tecnologia e, no meio desse pandemônio, tentam descobrir suas identidades.
Vive-se num mundo no qual os homens são verdadeiros escravos dessa tecnologia. Tão subservientes que, um filme como Matrix, cuja crítica é sobre o poder exagerado da tecnologia, depende da mesma para reproduzir seus inúmeros efeitos especiais.
O que é real e o que é irreal? Não se tem mais noção. Segundo a teoria de Braudillard, no pós-modernismo ocorrerá o domínio do simulacro, onde será possível a substituição do mundo real por uma versão simulada tão eficaz quanto a realidade.
Ocorrerá ou já está ocorrendo? Em Matrix, há a dicotomia do personagem principal que se divide entre duas vidas, a real e a aparente, entre dois nomes, Anderson e Neo (verifica-se simbologia até no nome fictício dele: “Neo”, o “novo”). Quantas vezes as pessoas não se escondem atrás de nicks, em salas de bate-papo e preferem viver uma vida virtual à real.
Baseando-se na internet como sendo uma grande Matrix, também temos os processos moleculares citados por Guattari. Esses movimentos moleculares seriam os que prezam pela singularização dentro da rede mundial de computadores. Quais seriam? Os blogs, fotologs, entre outros.
No decorrer do filme, Morfeu diz a Neo que “Matrix é o mundo que acredita ser real para que não se perceba a verdade”. Intrigado, Neo pergunta qual seria essa verdade e ouve a seguinte resposta: “Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro. Nasceu numa prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente”. O pensador francês Félix Guattari também teria uma resposta para Neo. Se houvesse um diálogo entre Guattari e o personagem de Matrix, possivelmente ele diria que essa prisão mental poderia vir da cultura, já que ela é reacionária.
A cultura prende o indivíduo do mesmo jeito que a Matrix “cegou” Neo. A realidade choca. Quando Neo a enxerga diz a Morfeu: “Por que meus olhos doem?” Ele prontamente afirma: “É porque você nunca os usava”. Pensamento semelhante ao da cantora baiana Pitty, que na música intitulada Admirável Chip Novo fala: “Pane no sistema alguém me desconfigurou, aonde estão meus olhos de robô? Eu não sabia, eu não tinha percebido (...) nada é orgânico, é tudo programado e eu achando que tinha me libertado”.
Assim, pensando que está livre, o homem não conheceria o real, acreditaria no falso como sendo verdadeiro. Até mesmo no que diz respeito à reprodução humana, Matrix mostra os desejos humanos de querer perpassar a biologia, criando homens em série e em cativeiros.
Quanto à memória e identidade do homem, no pós-modernismo é tudo instantâneo. Esquece-se do passado. É tudo muito rápido, como nos computadores, no qual basta apenas um click para apagar anos de trabalho e história. Como construir uma identidade nessas condições? Como a identidade multifacetária e com a ajuda da cultura – mesmo ela sendo reacionária – as pessoas através de sua individualidade, seus “devires” podem construir uma identidade própria. Essa é a luta de Neo.
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