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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Joy Division, New Order e "the New Order"

Você, leitor, já pensou que a música é um reflexo da sociedade e da cultura de um determinado local, de um determinada época? Acredito que sim. E, o quê pensar ao escutar uma música do Joy Division? E do New Order? Inúmeras poderiam ser as teorias sobre o grupo de Manchester, liderado por Ian Curtis, que se suicidou aos 24 anos; e sobre o grupo composto pelos remanescentes do Joy Division, o New Order.

A editora Landy publicou o livro Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência escrito por Helena Uehara. O livro mostra as diversas interpretações, as variadas formas de “sentir” e de “ver” dos fãs dos dois grupos musicais. Ela também analisa as letras das músicas, comparando-as com os contextos políticos, sociais e culturais vigentes na época na qual foram escritas. Ao dizer que “nada é mera coincidência”, a autora tenta mostrar que os movimentos culturais – e também os de contraculturas, vistos um pouco “à margem” da sociedade – são um reflexo do que ocorre no mundo em determinado período.

“Se Warsaw era uma banda punk, Joy Divison é pós-punk. New Order é eletropop. Como uma banda, com as mesmas raízes, pode mudar tanto? Partir para propostas aparentemente tão distantes e díspares? Nada é mera coincidência. Cada uma das bandas é reflexo do seu tempo, do contexto histórico em que se insere. Os acontecimentos históricos de final da década de 70 e início de 80 retratam um período de profundas mudanças. O Joy Division e, posteriormente, o New Order são antenas sensíveis que captam essas mudanças, que vivem as suas conseqüências sociais e econômicas. Ian Curtis é a voz que canta a angústia das incertezas da transição de uma era à outra. O fim da era Pós-Industrial e o início da era da Globalização e a da Informação, da Internet.”

Conforme escreveu Helena Uehara, a Inglaterra passava por dificuldades no final da década de 70. “Tempos difíceis na terra que um dia foi berço da Revolução Industrial. Decadência, desesperança, desemprego. Sentimentos de revolta, raiva e ódio contra o sistema vigente no final da década de 70:conservador e capitalista. Não havia oportunidades reais ou um futuro promissor para os jovens, sobretudo da classe operária.”

Em 1978, a rainha Elizabeth celebrava os 25 anos de seu reinado. Mas o Reino Unido, na verdade, começava a ser comandado pela “Dama de Ferro” – Margareth Tatcher. “Não é por acaso que tanto Iggy Pop como Ian Curtis e os demais integrantes do Joy Division são produtos originários de duas cidades industriais do final do século XX: Ann Arbor/ Detroit, nos Estados Unidos e Mcclesfield, cidade vizinha a Manchester, na Inglaterra. Representantes legítimos da escória do mundo capitalista.”

Qual seria a mensagem, a filosofia do movimento punk? A escritora diz que “uma das mensagens subliminares punks era: não se deixem guiar nem julguem os outros pelas aparências. Abaixo o consumismo e a ditadura da moda. Usem as roupas até rasgarem, furarem. Reinventem, reciclem. O lixo não é lixo. Nós não somos lixos!”

Todavia, ela aponta para uma controvérsia, para a mudança provocada pelo movimento capitalista e, por conseguinte, pelo consumismo exacerbado, tão em voga na sociedade atual. “No entanto, décadas após o surgimento do movimento punk, o sistema absorveu tudo que fosse interessante, vendável e lucrativo. Contraditória e ironicamente, o que mais existe hoje são bandas punk de butique, modelos de alta-costura em estilo sadomaso com pitada punk, jeans tratados e rasgados artificialmente que custam uma fortuna. E as pessoas, sobretudo as de alto poder aquisitivo, vestem-se assim porque está na moda, porque é legal ser diferente, chamar atenção aparentando rebeldia. Alienadas e distantes...de tudo o que foi um dia o punk.”

As transformações ocorreram... quanto ao Joy Division, a principal foi a morte de Ian Curtis. Porém, a morte, que deu um término ao Joy Division, também deu surgimento... ao New Order. Segundo o que consta no livro, os integrantes remanescentes do Joy Division – e formadores do New Order – evitam falar no assunto e dar entrevistas. Por essa razão, há uma pergunta ainda sem resposta... (a primeira de várias) qual seria a origem do nome da banda? “Há muitas interpretações em relação ao significado do nome New Order: 1- seria uma referência à 'nova ordem mundial' que o Hitler pretendia implantar durante o nazismo. Esta versão é a mais difundida pela imprensa, pelas revistas especializadas e constantemente reproduzida na internet; 2- o termo 'nova ordem mundial' estaria dentro do contexto da globalização dos anos 80 que trouxe um reordenação do mundo capitalista; 3- os integrantes queriam simplesmente desvincular-se do passado (Joy Division) e começar tudo de novo (New Order), baseado numa nova proposta e filosofia musical, estabelecendo uma nova ordem para o grupo; 4- homenagem ou referência ao conjunto norte-americano New Order formado por ex-integrantes do Stooges, do Iggy Pop; 5- influência da filosofia punk, fundamentada no anarquismo, que prega radical desorganização e destruição de estilos e procedimentos tradicionais para posterior reorganização ou construção do novo, para (re)estabelecimento de uma nova ordem.”

No primeiro trabalho, a banda teve problemas, porém, em 1983, veio o sucesso com o single Blue Monday, cuja vendagem foi de três milhões de cópias. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o grupo disse que havia retirado a batida de uma música de Donna Summer e os samples de Radioactivity, do Kraftwerk. O conjunto alemão tinha forte influência sobre a banda. Não é por acaso que, no álbum Power Corruption and Lies, existe uma versão da melodia do Kraftwerk: Your Silent Face, também chamada de KW1, nítida alusão aos músicos alemães. Quem mostrou o Kraftwerk – mais especificamente o trabalho Trans Europe: Express - aos integrantes do New Order foi Ian Curtis.

Aos poucos, o New Order foi se mostrando um influenciador dos ouvintes e dos gostos musicais de milhares de pessoas. O grupo foi se tornando um marco não do cenário indie, punk (do qual Joy Division sempre fará parte), mas do âmbito pop, eletrônico, como se a música fosse um espelho dessa Matrix onde vivemos, desse mundo cibernético. “O foco do New Order não são mais as músicas que emergem do inconsciente, que ‘tocam a alma’, como nos tempos do Joy Division, mas sim aquelas que falam de coisas cotidianas e que ‘tocam o corpo’ nas pistas de dança no mundo inteiro”, escreve Helena Uehara.

Para saber mais:




Livro: Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência
Autor: Helena Uehara
Coleção Novos Caminhos
Editora: Landy
ISBN: 8576290847
Número de páginas: 144





Filme: Control
País: Inglaterra
Gênero: Drama
Direção: Anton Corbjn
Elenco: Sam Riley, Samantha Morton,
Alexandra Maria Lara,
Joe Anderson, Toby Kebbell
Roteiro: Matt Greenhalgh
Duração: 122 minutos
Site oficial: http://www.controlthemovie.com/





2 comentários:

Raquel do Monte disse...

ju, joy division e new order eu amo demais. vou ver se consigo baixar o filme, já o livro eu não sabia que existia e tal. dica show. bj

Crystal disse...

New Order é a banda da minha vida! Amo todas as musicas!! Ja li o livro, vi o filme, fui aos shows!!
Nao vivo sem tudo que é ligado ao New Order: Joy Division (onde tudo começou), Monaco, Eletronic, The Other...
Cada musica do NO corresponde a algum episodio da minha vida...