Você já notou que o noticiário internacional ocupa um espaço relativamente pequeno na maioria dos jornais e que na maioria das vezes o texto é feito por agências internacionais (ou nacionais quando se tratam de jornais de médio e de pequeno porte)? Será mesmo que as notícias têm o peso que merecem? Como é o perfil de quem faz as notícias e de quem as lê? Essas são perguntas que podem ter as respostas encontradas no livro “Jornalismo Internacional” da Editora Contexto, escrito por João Batista Natali, que foi correspondente na Folha de São Paulo.
O livro Jornalismo internacional, escrito pelo jornalista João Batista Natali, é uma verdadeira aula sobre o tema, que possui pouca obra relacionada a ele. No decorrer da leitura, encontra-se o perfil do leitor da editoria internacional, o que é preciso para ser um bom jornalista dessa área, além de um pouco da história do jornalismo internacional e da trajetória da Folha de São Paulo, no quesito em questão.
Através de uma linguagem simples, foi redigido num tom coloquial, fazendo parecer que o escritor conversa diretamente com quem lê. Ele não se intimida em cortar o assunto e indicar um livro para aprofundamento. E, a todo instante, faz convites para serem feitas mais pesquisas relativas ao jornalismo internacional.
Para Natali, essa editoria deve receber uma atenção especial, pois “o leitor faz parte de um segmento minoritário e mais bem informado. É um leitor que possui critérios menos provincianos e mais metropolitanos de interesse”.
Mas, como seria o perfil ideal de um profissional que trabalha com esse tipo de jornalismo? Um fator importantíssimo seria a curiosidade pela História. Isso porque é “equivocada a idéia de que o jornalista lida apenas com a atualidade. Não há competência profissional sem que tenhamos uma visão clara daquilo que está historicamente por detrás da notícia e que as agências internacionais não transmitem”.
Assim como nos demais setores, a crise econômica atingiu as redações. O que era um trabalho exclusivo dos jornalistas do noticiário internacional passou a ser atribuído aos demais funcionários das outras editorias. Tudo para que fossem reduzidos os gastos com correspondentes no exterior.
Até a qualificação do jornalista deve ser melhor do que nos anos anteriores, já que “se passou a exigir mais dos redatores das editorias internacionais”. Afinal de contas, custa caro manter um profissional fora do país.
O jornalista da área ainda passa por um grande desafio: o de dar uma nova roupagem ao texto, pois eles são padronizados pelas agências e enviados para todos os jornais. O uso exclusivo das imagens e textos de agências ocasiona uma monotonia na cobertura internacional. Como diz o autor, “a competência jornalística consiste em colocar uma linda cereja nesse mesmo bolo antes de servi-lo”.
É preciso saber falar inglês e espanhol fluentemente, haja vista que as agencias não dispõem mais de serviços em português. O jornalista precisa entender a “linguagem diplomática”. Mas isso não significa que os outros idiomas não sejam essenciais porque “a importância deles está diretamente associada à influência econômica e política dos países que os falam”. E, para quem ainda não atentou para o estudo das línguas estrangeiras, João Batista Natali avisa: “o jornalista monoglota é uma raça em extinção. Foi pelas editorias internacionais que eles começaram a ser extintos”.
O noticiário internacional vai além da cobertura de guerras e assuntos diplomáticos. Ele foi invadido pela onda “people”, composto pelas notícias das celebridades mundiais. O escritor utiliza a teoria de Theodor Adorno para explicar o motivo da atenção, com relação à curiosidade sobre os famosos, ser desviada da vida profissional dos artistas para a pessoal. Seria um “fetiche” da mercadoria cultural. As páginas dos jornais são invadidas pelo assunto porque “a fronteira entre o jornalismo e entretenimento nem sempre é muito nítida”.
História – O autor faz uma viagem na história do jornalismo internacional, que se confunde com a própria história do jornalismo. Nesse aspecto, João Natali desmistifica alguns lugares comuns dessa história. Para ele, acreditar que o setor surgiu no século XIX é um equívoco. Outro erro seria acreditar que a notícia se tornou “mercadoria” apenas com a consolidação do capitalismo, o que ocorreu já no mercantilismo.
O alemão Jacob Függer von der Lille, o mais importante banqueiro europeu nas primeiras décadas do século XVI, foi o criador da newsletter. Os agentes de Függer enviavam, regularmente, informações que afetariam os negócios. Natali diz que foi “o embrião do jornalismo econômico e político, voltado para assuntos internacionais”.
“Függer e seu embrião de newsletters impressas permitiam a manutenção de uma rede que fazia as informações circularem por circuitos paralelos aos utilizados por duas redes previamente existentes, a rede diplomática, que orientava monarcas, e a rede eclesiástica, que orientava dirigentes da burocracia na Igreja”, explica João Batista Natali. Dessa maneira, “a informação foi comercializada como instrumento para produzir eficiência e poder nos negócios”.
Esse é só um pequeno exemplo que demonstra que o “jornalismo não pode se apequenar, fornecer da atualidade uma visão que será negada pelos historiadores”.
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