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domingo, 2 de maio de 2010

Um "Salvador" que lutou pela liberdade

Talvez os pais deles nunca imaginassem (ou talvez, sim, já que o pai fora militante da Ação Catalã durante a Segunda República e quase fora executado, se não fosse um indulto) o quão irônico seria o nome com o qual batizariam o filho: Salvador. Talvez o próprio Salvador quisesse fazer jus ao prenome e salvar seu povo de uma ignorância política e de uma passividade; talvez ele quisesse salvar sua nação da falta de liberdade e dar a todos um lar onde se possa, ao menos, dizer o que se pensa.

Salvador Puig Antich nasceu em Barcelona e foi militante durante o regime franquista. O estudante de Ciências Econômicas, imbuído pelos acontecimentos de maio de 68 e pela situação pela qual passava a Espanha, decidiu lutar por seus ideais. A luta culminou na morte de Salvador, condenado à morte por ter disparado contra um policial enquanto agia em legítima defesa.

Muitas são as críticas feitas ao filme Salvador, inspirado no livro Cuenta atrás. La historia de Salvador Puig Antich. Não conheço a história de Salvador a fundo, no entanto, acompanho a carreira de Daniel Brühl e vejo que o ator dá o tom certo ao protagonista. Daniel já se mostrou um excelente ator tanto em filmes sérios – The Edukators - quanto em comédias – Goodbye, Lenin. Não é por coincidência que seus papéis sempre estão ligados a algum evento histórico. É através de seus papéis que Daniel nos mostra um pouco da história européia.

Por isso, apesar de saber que há críticas e que, talvez, tanto o livro quanto o filme não reflitam a realidade, não posso deixar de parabenizar a iniciativa. É através deste filme que tive vontade de saber mais acerca de Salvador Puig Antich e sobre o regime franquista. E ele também pode ser o pontapé inicial para que o mesmo ocorra com você.

Para saber mais:




Filme
: Salvador
País: Espanha
Gênero: Drama
Direção: Manuel Huerga
Elenco: Daniel Brühl, Tristán Ulloa,
Leonardo Sbaraglia, Leonor Watling,
Ingrid Rubio, Olalla Escribano,
Carlota Olcina, Bea Segura, Andrea Ros
Roteiro:Lluís Arcarazo,
baseado no livro de
Francesc Escribano

Duração: 134 minutos




domingo, 6 de setembro de 2009

Makali: a "kalima" do indie pop francês

Como algumas pessoas que me conhecem já sabem – e outras que me conhecem apenas um pouquinho também já sabem disso!!... – interesso-me por tudo relacionado à França, à língua, à literatura francesa...

Foi quando, por acaso, assisti o filme Um bom ano, pois havia visto que o cenário principal seria Provence. A primeira coisa que faço quando gosto de um filme é procurar a trilha sonora. Resolvi então consultar o meu amigo Google e descobri uma banda incrível, com a dosagem certa de humor, ironia, além de muita musicalidade. Qual é a banda? Makali (anagrama do árabe "kalima", cujo significado é "palavra"). A banda – talvez não por acaso – também é da cidade de Vaucluse, naprovíncia de Goult, na Provença.

Inicialmente tratava-se de um trio, formado 2003 e composto por Armelle Ita (voz e clarinete), Andrea Papi (guitarra e backing vocal) e Barnabé Saïd-Albert (voz e guitarra), filho de Isabelle Adjani. Pouco tempo depois se juntaram a eles: Audrey Saturi (violoncelo), Cleps Puig (baixo e contrabaixo) e Nico Rew (bateria e percussão).

Em 2005, três faixas do grupo foram selecionadas para a trilha sonora de Um bom ano, dentre as quais Il faut du temps au temps. No CD De la chanson et puis c’est tout ainda há destaque para as canções Mais bon !, Sur les chemins, On s’fait du mal.

O grupos cita como influências Mathieu Boogaerts, Taj Mahal, Björk, Camille (que também faz parte da trilha sonora de Um bom ano), Third World, Portishead, -M-, , Timbaland & the Beat Club, Missy Elliott, Prince, Zero 7, Sia, G.Brassens, Nick Drake, Leonard Cohen, Tom Waits, Pink Floyd, Sid Barrett, J.Higelin, Mr Gainsbourg, The Doors, Metallica, Jimy Hendrix, Faith No More, Snoop Dogg, Nikka Costa, Jeff Buckley, Pantera, Pauline Crose, Fiona Apple, Outkast, Bob Marley, La Mano Negra, Rage Against The Machine, Fishbone, Busta Rhymes, Miles Davis, Michael Jackson, The White Stripes, Morphine, entre outros. Como se pode ver, pela lista, o som do Makali é influenciado por várias tribos, o que faz da banda francesa uma representante da música pós-moderna e transnacional; algo que já se viu, todavia, que continua sendo diferente.

Mais bon...!!

* Fotos: Glen E. Friedman (myspace.com/chezmakali) e Bertrand Jacquot.






Site oficial: www.chezmakali.com
Myspace: www.myspace.com/chezmakali






quarta-feira, 1 de abril de 2009

Joy Division, New Order e "the New Order"

Você, leitor, já pensou que a música é um reflexo da sociedade e da cultura de um determinado local, de um determinada época? Acredito que sim. E, o quê pensar ao escutar uma música do Joy Division? E do New Order? Inúmeras poderiam ser as teorias sobre o grupo de Manchester, liderado por Ian Curtis, que se suicidou aos 24 anos; e sobre o grupo composto pelos remanescentes do Joy Division, o New Order.

A editora Landy publicou o livro Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência escrito por Helena Uehara. O livro mostra as diversas interpretações, as variadas formas de “sentir” e de “ver” dos fãs dos dois grupos musicais. Ela também analisa as letras das músicas, comparando-as com os contextos políticos, sociais e culturais vigentes na época na qual foram escritas. Ao dizer que “nada é mera coincidência”, a autora tenta mostrar que os movimentos culturais – e também os de contraculturas, vistos um pouco “à margem” da sociedade – são um reflexo do que ocorre no mundo em determinado período.

“Se Warsaw era uma banda punk, Joy Divison é pós-punk. New Order é eletropop. Como uma banda, com as mesmas raízes, pode mudar tanto? Partir para propostas aparentemente tão distantes e díspares? Nada é mera coincidência. Cada uma das bandas é reflexo do seu tempo, do contexto histórico em que se insere. Os acontecimentos históricos de final da década de 70 e início de 80 retratam um período de profundas mudanças. O Joy Division e, posteriormente, o New Order são antenas sensíveis que captam essas mudanças, que vivem as suas conseqüências sociais e econômicas. Ian Curtis é a voz que canta a angústia das incertezas da transição de uma era à outra. O fim da era Pós-Industrial e o início da era da Globalização e a da Informação, da Internet.”

Conforme escreveu Helena Uehara, a Inglaterra passava por dificuldades no final da década de 70. “Tempos difíceis na terra que um dia foi berço da Revolução Industrial. Decadência, desesperança, desemprego. Sentimentos de revolta, raiva e ódio contra o sistema vigente no final da década de 70:conservador e capitalista. Não havia oportunidades reais ou um futuro promissor para os jovens, sobretudo da classe operária.”

Em 1978, a rainha Elizabeth celebrava os 25 anos de seu reinado. Mas o Reino Unido, na verdade, começava a ser comandado pela “Dama de Ferro” – Margareth Tatcher. “Não é por acaso que tanto Iggy Pop como Ian Curtis e os demais integrantes do Joy Division são produtos originários de duas cidades industriais do final do século XX: Ann Arbor/ Detroit, nos Estados Unidos e Mcclesfield, cidade vizinha a Manchester, na Inglaterra. Representantes legítimos da escória do mundo capitalista.”

Qual seria a mensagem, a filosofia do movimento punk? A escritora diz que “uma das mensagens subliminares punks era: não se deixem guiar nem julguem os outros pelas aparências. Abaixo o consumismo e a ditadura da moda. Usem as roupas até rasgarem, furarem. Reinventem, reciclem. O lixo não é lixo. Nós não somos lixos!”

Todavia, ela aponta para uma controvérsia, para a mudança provocada pelo movimento capitalista e, por conseguinte, pelo consumismo exacerbado, tão em voga na sociedade atual. “No entanto, décadas após o surgimento do movimento punk, o sistema absorveu tudo que fosse interessante, vendável e lucrativo. Contraditória e ironicamente, o que mais existe hoje são bandas punk de butique, modelos de alta-costura em estilo sadomaso com pitada punk, jeans tratados e rasgados artificialmente que custam uma fortuna. E as pessoas, sobretudo as de alto poder aquisitivo, vestem-se assim porque está na moda, porque é legal ser diferente, chamar atenção aparentando rebeldia. Alienadas e distantes...de tudo o que foi um dia o punk.”

As transformações ocorreram... quanto ao Joy Division, a principal foi a morte de Ian Curtis. Porém, a morte, que deu um término ao Joy Division, também deu surgimento... ao New Order. Segundo o que consta no livro, os integrantes remanescentes do Joy Division – e formadores do New Order – evitam falar no assunto e dar entrevistas. Por essa razão, há uma pergunta ainda sem resposta... (a primeira de várias) qual seria a origem do nome da banda? “Há muitas interpretações em relação ao significado do nome New Order: 1- seria uma referência à 'nova ordem mundial' que o Hitler pretendia implantar durante o nazismo. Esta versão é a mais difundida pela imprensa, pelas revistas especializadas e constantemente reproduzida na internet; 2- o termo 'nova ordem mundial' estaria dentro do contexto da globalização dos anos 80 que trouxe um reordenação do mundo capitalista; 3- os integrantes queriam simplesmente desvincular-se do passado (Joy Division) e começar tudo de novo (New Order), baseado numa nova proposta e filosofia musical, estabelecendo uma nova ordem para o grupo; 4- homenagem ou referência ao conjunto norte-americano New Order formado por ex-integrantes do Stooges, do Iggy Pop; 5- influência da filosofia punk, fundamentada no anarquismo, que prega radical desorganização e destruição de estilos e procedimentos tradicionais para posterior reorganização ou construção do novo, para (re)estabelecimento de uma nova ordem.”

No primeiro trabalho, a banda teve problemas, porém, em 1983, veio o sucesso com o single Blue Monday, cuja vendagem foi de três milhões de cópias. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o grupo disse que havia retirado a batida de uma música de Donna Summer e os samples de Radioactivity, do Kraftwerk. O conjunto alemão tinha forte influência sobre a banda. Não é por acaso que, no álbum Power Corruption and Lies, existe uma versão da melodia do Kraftwerk: Your Silent Face, também chamada de KW1, nítida alusão aos músicos alemães. Quem mostrou o Kraftwerk – mais especificamente o trabalho Trans Europe: Express - aos integrantes do New Order foi Ian Curtis.

Aos poucos, o New Order foi se mostrando um influenciador dos ouvintes e dos gostos musicais de milhares de pessoas. O grupo foi se tornando um marco não do cenário indie, punk (do qual Joy Division sempre fará parte), mas do âmbito pop, eletrônico, como se a música fosse um espelho dessa Matrix onde vivemos, desse mundo cibernético. “O foco do New Order não são mais as músicas que emergem do inconsciente, que ‘tocam a alma’, como nos tempos do Joy Division, mas sim aquelas que falam de coisas cotidianas e que ‘tocam o corpo’ nas pistas de dança no mundo inteiro”, escreve Helena Uehara.

Para saber mais:




Livro: Joy Division/New Order: Nada é mera coincidência
Autor: Helena Uehara
Coleção Novos Caminhos
Editora: Landy
ISBN: 8576290847
Número de páginas: 144





Filme: Control
País: Inglaterra
Gênero: Drama
Direção: Anton Corbjn
Elenco: Sam Riley, Samantha Morton,
Alexandra Maria Lara,
Joe Anderson, Toby Kebbell
Roteiro: Matt Greenhalgh
Duração: 122 minutos
Site oficial: http://www.controlthemovie.com/





quinta-feira, 19 de junho de 2008

O sucesso de Pushing Daisies

Quem é fã de Amélie Poulain provavelmente ficará viciado na série estadunidense Pushing Daisies. O próprio criador – Bryan Fuller - assumiu que a inspiração veio do filme francês. As cores, sempre vibrantes e dando a impressão de que se está numa pintura, num mundo de faz de conta, no qual os personagens poderiam ser “bonequinhos”, dão um diferencial e também ajudam a prender a atenção do telespectador.

O enredo é simples, leve, com uma pitada de humor negro, pois o tema é a morte e um amor difícil, porém não impossível, um amor que atravessou a barreira até mesmo da morte e que tem que conviver com o fato das personagens principais – Chuck (Anne Friel) e Ned (Lee Pace) – não puderem se tocar. Entretanto, eles sempre arrumam uma maneira para demonstrar o infinito sentimento que sentem um pelo outro.

Ned descobriu, aos nove anos, que tinha um dom, o qual o traria bastante problemas. Todas as pessoas nas quais ele tocasse, morreriam. Com um segundo toque, Ned as ressuscitaria, porém, caso o ressuscitado passasse mais de 60 segundos vivo, outra pessoa morreria em seu lugar.
O garotinho cresceu e se tornou um confeiteiro, com uma loja especializada em tortas. As frutas com que ele faz as tortas geralmente são velhas, podres, todavia elas ficam perfeitas ao serem tocadas por Ned.

Mas, obviamente, que um triangulo amoroso não poderia faltar. Olive (Kristin Chenoweth), que trabalha na confeitaria, é apaixonada por Ned, aparentemente a única que ele pode tocar sem que perca a vida.

O seriado tem inúmeras parábolas e lições imersas no enredo e essa é uma delas... estar tão perto da pessoa querida, porém não poder tocá-la ou até mesmo ser criativo e ultrapassar barreiras para que no final o amor e a amizade vençam, como no caso de Ned e Chuck que usam diversas artimanhas para se sentirem um pouquinho mais próximos.
Outro diferencial da série é a duração. A primeira temporada de Pushing Daisies foi bem curtinha, tendo apenas nove capítulos. Uma nova temporada está prevista para estrear nos Estados Unidos em setembro.

Pushing Daisies concorreu a diversos prêmios dentre eles ao Globo de Ouro nas categorias: melhor atriz (Anne Friel), melhor ator em série – comédia ou musical (Lee Pace) e melhor série – comédia ou musical.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Noam Chomsky, Timor Leste e os discursos oficiais e oficiosos

O terror do Timor Leste, em 1999, poderia ter sido evitado. Aliás, não só ele, como o de Ruanda, o do Quênia e de tantos outros países. Ele poderia ter sido evitado se os Estados Unidos (país auto-intitulado como o “guardião do mundo”) não tivesse, primeiramente, colaborado com as milícias ou se, ao menos, tivessem tomado providências simples como apenas um diálogo com as forças armadas indonésias (TNI).

A Indonésia invadiu o Timor Leste (ex-colônia portuguesa) três dias após sua independência, em 1975, com o apoio diplomático dos EUA e com armas fornecidas pelos estadunidenses. Segundo Noam Chomsky (no capítulo “Sinal verde” para os crimes de guerra do livro Uma nova geração define o limite) “bastaria, muito provavelmente, que os Estados Unidos e seus aliados retirassem a sua participação e informassem a seus sócios no comando militar indonésio que as atrocidades tinham de terminar e que era preciso assegurar ao território a autodeterminação estabelecida pelas Nações Unidas e pelo Tribunal Internacional de Justiça”.

Mas os EUA tinham medo, pavor de que a Indonésia (um país visto como independente e democrático) caísse nas mãos dos soviéticos. E nada mais do que a sede pelo poder moveu a estratégia político-diplomática estadunidense. No texto de Chomsky, ele afirma que, na época, dois especialistas na Ásia do New York Times explicaram que “a administração Clinton ‘calculou que os EUA precisam pôr suas relações com a Indonésia, um país de grande riqueza mineral e mais de 200 milhões de habitantes, acima de considerações sobre o futuro do Timor Leste, pequeno e empobrecido território de 800 mil habitantes que busca a independência”. Poder-se-ia presumir, dessa forma, que a Indonésia era extremamente importante, já o Timor Leste, algo irrisório. Porém os EUA sabiam que era preciso ter controle sobre aquele local. Necessitava-se de passar pela crise - que culminou na morte de milhares de timorenses - com segurança, pois aquela ilha não passava de um “quebra-molas” na relação Indonésia-EUA.

5 de maio de 1999 foi o dia no qual Indonésia e Portugal, apoiados pela Organização das Nações Unidas, concordaram que cabia ao povo escolher se o Timor Leste seria ou não independente. O referendo foi marcado para 8 de agosto, depois adiado para o dia 30. Meses antes, quando o então presidente B. J. Habbie (em maio de 1998, Suharto, por sugestão dos Estados Unidos, deixara o cargo para Habbie, vice-presidente) anunciara uma escolha democrática, as intimidações se iniciaram. Os timorenses não temeram e, numa demonstração de cidadania e patriotismo, foram às urnas – alguns saíram até de esconderijos – e cerca de 80% da população foi a favor da independência.

A alegria virou dor... De acordo com a ONU, os paramilitares e o TNI expulsaram aproximadamente 750 mil timorenses dos 880 mil que habitavam a ilha. A maioria foi para o Timor Oeste indonésio. 70% do país foi destruído e cerca de 10 mil pessoas foram mortas.

Os Estados Unidos não podiam deixar o mundo olhar para o Timor Leste, pois quem treinou a milícia?! Era preciso chamar a atenção para Kosovo e fazer a mídia focalizar-se nesse outro drama. “O apoio direto dos EUA à ocupação Indonésia ficou mais difícil depois que centenas de pessoas foram massacradas em Dili em 1991, atrocidade que não poderia ser suprimida ou negada porque foi secretamente filmada pelo repórter fotográfico Max Stahl e exibida pela televisão na Grã-Bretanha e nos EUA, e porque dois jornalistas americanos, Alan Nairn e Amy Goodman, que foram severamente espancados, puderam fazer reportagens como testemunhas oculares. Como reação a isso, o Congresso proibiu a venda de armas de pequeno porte e cortou verbas destinadas a treinamento militar, obrigando o governo Clinton a recorrer a manobras intrincadas para escapar das restrições legislativas, como fazia com relação à Turquia na mesma época”, alega Chomsky.

Noam Chomsky, como teórico crítico, tenta apresentar a diferença do discurso oficial para o “oficioso”. Um exemplo disso é quando ele fala o seguinte: “O Departamento do Estado comemorou o aniversário da invasão indonésia determinando que ‘a lei do Congresso não proíbe que a Indonésia pague pelo treinamento com seus próprios recursos”, de modo que o treinamento poderia prosseguir, apesar da proibição, com Washington provavelmente tirando dinheiro de algum outro bolso. O anúncio foi pouco noticiado e comentado na imprensa, mas levou o Congresso a expressar sua ‘indignação’, reiterando que ‘era e é intenção do Congresso proibir treinamento militar para a Indonésia’ (Comissão de Apropriação da Câmara): ‘Não queremos que funcionários do governo dos EUA treinem indonésios’, reiterou um funcionário, com veemência, mas inutilmente.”

O discurso oficioso britânico, conforme afirmava o ministro tatcherista, Alan Clark era: “Minha responsabilidade é para com o meu povo. Na realidade não me preocupo muito com o que um grupo de estrangeiros está fazendo com outro grupo de estrangeiros. Enquanto o oficial era o de “um novo humanismo”, no qual EUA e Grã-Bretanha davam-se as mãos.

O embaixador dos EUA na ONU, Richard Holbrooke, durante o governo Carter, era responsável de seguir à risca o apoio às agressões e matanças, contanto que, a Indonésia não caísse nas mãos dos comunistas. Até essa época (entre as décadas de 70 e 80), 200 mil pessoas morreram. “A história é reconstruída, entretanto, para oferecer uma imagem diferente. Desfeito o passado, Holbrooke é apresentado como um herói da ‘mais rápida reação [a atrocidade] na história da manutenção da paz pela ONU’, e ‘a primeira vez na era pós-Ruanda e pós-Srebrenica em que o Conselho de Segurança enfrenta de imediato uma situação de emergência’ – ou seja, depois que o país foi destruído e sua população expulsa ou morta, de acordo com planos que seguramente eram conhecidos de antemão em Washington.”

É preciso se ter a coragem do povo timorense para lutar e dizer NÃO a tudo o que for contrário à democracia. Diz Chomsky que “a história não começa em 1975. O Timor Leste não tinha sido deixado de lado pelos planejadores do mundo pós-guerra. O território deveria ter se tornado independente, cismava o principal conselheiro de Roosevelt, Summer Welles, mas ‘isso levaria certamente mil anos’. Com uma coragem e uma firmeza dignas de admiração, o povo do Timor Leste lutou para desmentir essa previsão, suportando desastres monstruosos”. Que isso nos sirva de lição.

Para saber mais:



Uma nova geração define o limite

Editora: Record
ISBN: 8501063983
Ano: 2003
Edição: 1
Número de páginas: 174




Timor Leste - O Massacre que o Mundo Não Viu

Diretora: Lucélia Santos
Tempo: 75 minutos
Ano de Lançamento: 2005
Recomendação: 14 anos
Legenda: Espanhol, Português, Inglês
Idiomas / Sistema de Som:
Português - Dolby Digital 2.0
Português - Dolby Digital 5.0
Pais de Origem: Brasil

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A África esquecida de Hotel Ruanda

Dor, desespero, ódio, desprezo, preconceito, perseverança, amor, compaixão, garra... inúmeros seriam os substantivos que poderiam ser relacionados ao filme Hotel Ruanda. Ele foi inspirado na luta do Paul Rusesabagina para abrigar conterrâneos, vítimas do genocídio, no qual a etnia tutsi foi massacrada pela hundu, e, que aconteceu em Ruanda em 1994, 10 anos antes for filme ser lançado.

Apesar de fazer pouco tempo do acontecimento dessa tragédia , se não fosse o filme, talvez ela teria sido esquecida quase completamente. A resposta está no próprio Hotel Ruanda quando o coronel da Organização das Nações Unidas (ONU) diz, num ataque de fúria e revolta por não ter muitas opções, a Paul que não se poderia fazer nada porque as superpotências não se importavam com a África, segundo elas, seria um lixo. Se houvesse petróleo lá, a história com certeza seria diferente.

Além disso, pode-se ver como a imprensa somente mostra o lado que mais a convém, não se importando em mostrar imagens terríveis de um massacre num telejornal. Tudo vale, desde que se aumente a audiência. O fato mais triste é que mesmo vendo cenas como os genocídios na África, as guerras civis na ex-Iugoslávia ou até mesmo a revolta de um presídio no Brasil, os telespectadores apenas dizem “isso é terrível” e cruzam os braços, tomam seus cafés da manhã, vão aos shoppings, como se nada estivesse acontecendo. O mundo talvez esteja mais parecido com o pensamento de Thomas Hobbes do que quando o filósofo inglês vivia.

Mas, cada cidadão pode começar a mudar essa situação. Assim como Paul Rusesagabina, deve-se pensar que sempre há uma saída e lutar por ela. Se cada um, que assistiu ao filme, conseguiu se comover e pensar em maneiras de tornar o mundo um pouco melhor, já é um bom começo. Da mesma maneira que já será se você, ao ler este texto, cogitou a possibilidade de ver Hotel Ruanda.

Por que não fazer algo agora, então? Se você não sabe como ajudar, se não pode disponibilizar tempo para serviços comunitários, se não tem dinheiro, não importa... o que basta é que você tenha consciência de seu papel como cidadão e como peça importante para a paz e a integração mundial. Vou dar uma dica: pode começar clicando aqui, lendo algumas das matérias publicadas, assinando abaixo-assinados. Sua opinião é importante, você tem todo o direito de cobrar dos políticos, das autoridades. Exerça sua cidadania!

E lembre-se: “Nunca duvide da capacidade de um pequeno grupo de cidadãos formado e comprometido de mudar o mundo; na realidade, esta foi a única maneira de se conseguir isso até agora.” (Margaret Mead) Foi assim que Nelson Mandela, Bob Geldof, Paul Rusesagabina, Betinho pensaram...


Para saber mais:

Hotel Ruanda
(2004)

Direção:
Terry George

Elenco: Don Cheadle
Sophie Okonedo
Desmond Dube
Haakem Kae-Kazin
Nick Nolte
Joaquin Phoenix

Roteiro: Terry George
Keir Pearson



domingo, 30 de setembro de 2007

Tropa de elite

O assunto que está na mídia (e não poderia faltar no Entra por osmose!) é o filme Tropa de Elite, cujo elenco é formado por “estrelas globais” como Wagner Moura e Fernanda Machado. Além de Tropa de Elite ser polêmico por conta do roteiro ele também o é por causa do número de cópias piratas. É quase impossível encontrar alguém que não o tenha assistido, mesmo se ele esteja em cartaz apenas num cinema de Jundaí - interior paulista - e que vá estrear nas telonas de todo país em 12 de outubro.

A pirataria fez aparecer um boato de que haveria uma nova versão para o filme que vai para as telonas e até uma outra versão para o cinema americano, a qual seria contada do ponto de vista de André (André Nascimento), um dos candidatos a substituto do Capitão Nascimento (Wagner Moura).

O filme contém duas estórias paralelas que se cruzam; uma é a de dois “aspiras” (gíria utilizada no filme para aspirante): André e Neto; a outra é do capitão Nascimento do Batalhão de operações especiais (Bope), o qual, a pedido da mulher grávida quer encontrar um substituto à altura.

André e Neto se completam. Apesar de amigos de infâncias, eles são extremamente diferentes. O primeiro é inteligentíssimo, estudante de direito em uma tradicional universidade do Rio. Já o segundo é mais emotivo, apaixonado pela polícia e vê tudo como uma guerra, na qual ele quer fazer justiça. A semelhança que une os amigos de infância é a honestidade.

Se você não é de se abalar bastante com cenas de violência, pode correr para assistir o filme. Já se for bastante emotivo, sugiro não o ver, pois há cenas fortíssimas, com direito a ter até sangue na lente da câmera, causando um efeito mais realista, como se o telespectador fosse uma testemunha ocular. Contudo não esqueça que a obra é uma ficção.

O filme, assim como aconteceu com Cidade de Deus, vai marcar a história do cinema brasileiro (mais pela repercussão do que por outro motivo). Mas mesmo com a estratégia de estreá-lo em Jundaí para dar tempo de ter chance de ser indicado para representar o Brasil no Oscar, ele ficou de fora, dando lugar a O ano em que meus pais saíram de férias.

Entretanto, a repercussão de Tropa de Elite não acaba por aí. Tudo indica que duas emissoras estejam disputando os direitos para fazer uma séria inspirada no filme. Acredito não ser muito difícil adivinhar quem provavelmente irá ganhar...

O roteiro baseia-se no livro Elite da Tropa, do ex-secretário de segurança, do sociólogo Luiz Eduardo Soares e de Rodrigo Pimentel e André Batista, ex-integrantes do Bope (não estranhe se o número de vendas aumentar). O livro ganhou até uma capa nova com a foto do ator Wagner Moura). A direção é do cineasta José Padilha, responsável pelo documentário Ônibus 174, falando do caso em que faleceu o seqüestrador do ônibus e uma das reféns.

Para refletir: É preciso ver o filme como uma ficção e não idolotrar o personagem principal como se a violência fosse a solução. Ela tanto não é que o mesmo diretor de Tropa de Elite é o do Ônibus 174, o qual mostra a vida de Sandro e deixa claro que a sociedade também é culpada do que aconteceu e ainda acontece.

Site oficial: http://www.tropadeeliteofilme.com.br/

Outro post relacionado a Wagner Moura.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Juramento ao silêncio

O filme Juramento ao silêncio (Sworn to silence – 1987) mostra a trajetória do advogado Sam Fischetti durante um caso bárbaro que abalou a sociedade e o ocasionou sérias conseqüências, como a discriminação dele e da família.

Sam Fischetti é advogado cível e, certo dia, é surpreendido com o pedido da esposa de Vicent Cauley para defendê-lo de uma acusação de homicídio. Primeiramente, ele se nega, haja vista que nunca trabalhara com direito criminal, porém um pedido do juiz o faz mudar de pensamento. Trata-se de uma artimanha, pois uma defesa bem feita dificultaria uma potencial apelação.

A partir do momento em que aceita o caso, Fischetti começa a sofrer preconceito da comunidade, a qual acredita que o réu não mereceria defesa alguma. Para ajudá-lo, o advogado chama um amigo, especialista em direito criminal, Martin Costigan. Ambos acreditam que Cauley tem o direito a uma defesa eficaz. “Vamos ver se inventamos uma”, diz ironicamente Costigan.

Entretanto, não acostumado com o trejeito dos casos penais, Sam Fischetti se desilude desde o começo do caso, achando que já o havia perdido. É quando o amigo diz – mesmo antes de saber a verdade sobre o crime: “Esqueça o Código Penal. A maioria dos clientes é de criminosos”.

Vicent Cauley confessa o assassinato de Melissa Haytor, assim como o de Nancy Dearing e Sarah Goodman, até então desaparecidas. Inicia-se, então, o dilema ético de Fischetti. Junto com Costigan, ele vai até o local onde estão os corpos e fica divido entre contar a verdade às famílias das vítimas ou defender o réu imparcialmente. Ele opta pela primeira alternativa. “Talvez ninguém seja ninguém até acender uma chama na lareira e se enxergar o que não gostaria de ver. (...) Talvez agora eu seja verdadeiramente um advogado”, fala ele à esposa.

Mesmo sabendo dos crimes e apesar dos preconceitos sofridos, os advogados fazem uma defesa imparcial de Vicent Cauley e tentam esclarecer o motivo dele ter se tornado um criminoso, já que havia crescido sem padrões morais em uma família desestruturada.

O filme mostra que o advogado deve deixar as convicções de lado, em certos momentos, e trabalhar em busca de justiça, não importando a quem, já que a Constituição não faz distinções. Ao contrário, afirma que “todos são iguais perante à lei”

sábado, 24 de dezembro de 2005

Os educadores

Jan, Jule e Peter: três jovens revolucionários que querem “educar” a elite alemã. Sim... educar, pois eles se intitulam de “Os educadores”, daí o título do filme. Seguindo o exemplo de Adeus, Lênin (com Daniel Brühl, mesmo ator que faz Jan), o enredo mostra um pouco da sociedade da Alemanha, que sofre há anos com toda a história política e social. A conturbação nesse país europeu vai desde antes do tempo do Früher, passando pela separação entre Alemanha Oriental e Ocidental, até os dias de hoje, nos quais os teutos se vêem ameaçados com uma possível instabilidade econômica e demonstraram isso nas urnas.

Mas The Edukators apresenta uma faceta da juventude atual que poderia fazer parte de qualquer lugar do mundo. Não existe mais um ideal certo, um inimigo claro contra o qual lutar como nos anos 60 ou 70. É como Jan diz, o que era revolucionário nessa época, hoje está nas prateleiras para ser vendidos e dar lucro. Ele até mesmo cita as inúmeras camisetas de Che Guevara (algo que eu já havia comentado no texto anterior). O fato é que não existe ideologia e, quando há, ela é o retrato do pós-modernismo: inconstante, múltipla. A prova é tamanha que Jan diz a Jule que, quando se observa mais do que se age, vive-se numa Matrix. Todos nós estamos vivendo numa, pois somos agentes passivos de uma história que está sendo feita “para” nós e não “por” nós.

Durante o filme somos levados a pensar o quanto nos rendemos ao sistema capitalista, mesmo sem percebermos. Hardenberg (milionário seqüestrado pelos três jovens) é uma prova da transformação feita pelo capitalismo, já que ele próprio foi um militante. É como ele afirma, “aos poucos vai acontecendo e você não percebe. Um dia você troca seu carro velho; no outro constitui uma família e quer uma casa boa...”.

É se deixando levar por essa mutação (in)consciente que compramos dezenas de roupas que não usamos; sapatos que valem uma fortuna, porém custam muito menos, porque são feitos por mão-de-obra barata, exploração infantil... Você pergunta: “É eu com isso?” Vou deixar os educadores responderem: “Manche Leute ändern sich nie” (Algumas pessoas nunca mudam.)

Entrevista com o diretor Hans Weingartner.