Buenos Aires... ao ouvir o nome dessa cidade parece que uma aura de encantamento (e por que não dizer de curiosidade e de admiração também?) surge. Buenos Aires é uma mescla de sentimentos. Ela te desperta amor e ódio, alegria e tristeza. Buenos Aires é assim: um contraste. E é isso que a torna um lugar impar.
Ela é aquela mulher sedutora que te apaixona, te seduz e depois te abandona. Justamente como as mulheres “tangueras”. Ela não é apenas a cidade que serviu de cenário para os diversos tangos e para os contos de Borges. Buenos Aires também é a cidade dos cafés espalhados por quase todas as esquinas, das senhoras que passeiam (ah... como eles adoram os “perritos”!) e da nova geração um tanto emo e flogger.
Buenos Aires é a cidade elegante dos ricos que vivem em Palermo (e quantos Palermos! Tem Palermo Soho, Hollywood, Viejo...), na Recoleta e em Puerto Madero. Também é aquela cidade do bairro do Boca, fundado por imigrantes e que hoje é ponto turístico obrigatório por ter ruas como “Caminito” e ser onde está o Boca Juniors. Ela é ainda a cidade dos “conventillos” (para nós, algo como “cortiços”) que surgiram na década de 90 com a vinda de imigrantes peruanos e bolivianos que partiram em busca de emprego e fugindo da fome e da pobreza.
Mas o que talvez Buenos Aires tenha de mais encantador (e ao mesmo tempo assustador) seja os argentinos. Eles tanto podem ser as pessoas mais gentis do mundo, como serem as mais estúpidas. E como são passionais! No trânsito, eles se transformam. É aí que você se escuta (e aprende!) uma série de palavrões. Cuidado ao atravessar as ruas. Se eles tiverem uma oportunidade, atropelam você! (brincadeira!) Apesar da nova lei de trânsito, a qual entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano e que, como no Brasil, tira pontos dos motoristas, os argentinos não respeitam os pedestres. Eles são tão individualistas ao ponto de não dar a mínima para o caso de o sinal ter aberto “mientras” você estava atravessando a rua. Na dúvida, fale com um argentino. O máximo que pode te acontecer é levar um fora, mas, como tempo, você se acostuma. Além disso, eles são muitíssimo prestativos.
Talvez (talvez não, com certeza) Buenos Aires seja esse fervor, esse caldeirão de diferenças devido à imigração que iniciou no final do século XIX. Italianos, russos, alemães, judeus, espanhóis... todos atravessavam o oceano e vinham para a América do Sul em busca de uma vida melhor. E essa mistura de culturas, de origens se reflete no rosto e no sotaque dos argentinos.
Em Buenos Aires, para onde foram os imigrantes com o intuito de povoar a até então despovoada cidade, pode-se encontrar morenos de olhos escuros e loiríssimos de olhos azuis. Ao falar, o portenho deixa escapar, naturalmente, um sotaque similar ao do italiano; para ser mais específica, ao do napolitano. Pesquisas já comprovaram que o sotaque portenho e o napolitano são idênticos, ou seja, muitos argentinos são “quase” italianos falando espanhol.
E é dessa mistura do italiano com o espanhol que nasceu o “lunfardo”, algo como o “verlan” francês. O lunfardo era a “língua” falada pelos malandros que viviam nos caberets, escreviam e dançavam tangos. O maior produto de exportação do país – o tango – ficou famoso depois de ter sido aceito na França e é utilizado como referência cultural na Argentina.
Mas hoje as coisas mudaram. O tango agora é eletrônico. As pessoas não o escutam tanto. Agora os hits são a “cumbia” (ritmo parecido com a salsa que se assemelha um pouco ao “brega” no Brasil) e o reggaeton.
Buenos Aires já não é aquela cidade e uma classe média que vivia bem e tranqüila. Em certos bairros é preciso tomar muito cuidado ao andar à noite. As pessoas são sempre cautelosas para não serem roubadas, o trânsito é caótico e o côco dos “perritos” estão espalhados pelas calçadas. Agora eles têm que conviver com as “villas” (as “favelas” argentinas) e com as pessoas que não tiveram oportunidade de ter uma vida melhor e utilizam as vias ilegais para obterem algo.
Por mais que você sinta falta do Brasil, ao deixar Buenos Aires você sentirá um aperto no coração. Chore, chore pela Argentina, pois ela merece. Ela não pode chorar por você, já você pode e deve chorar por ela!
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