1789. Ano da Revolução Francesa, correto? Sim!! Mas também é o ano que dá início a uma revolução a qual quase ninguém dá importância, a de um país que é esquecido pela maioria da população mundial: o Haiti. A Revolução Francesa, com o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, alimentou o espírito revolucionário em diversos países, inclusive no Brasil. No entanto, uma pequena ilha caribenha teve mais sucesso do que outras colônias que almejavam a independência.
A história do Haiti é repleta de revoltas e de luta pela liberdade. Foi lá que Cristóvão Colombo desembarcou em 1492 ao descobrir a América. A Ilha foi batizada como Hispaniola. Cerca de 100 anos depois, no final do século XVI, a população indígena – aruaques – já estava quase que completamente dizimada. E, foi nessa mesma época, que a Espanha cedeu parte do território da ilha à França.
O objetivo francês era ter colônias de povoamento na América visando um bom posicionamento militar, o qual pudesse favorecer um ataque às colônias da metrópole mais rica da época: a Espanha.
Aos poucos, as Antilhas foram se apresentando como uma grande fonte de renda. “As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo número de artigos – como o algodão, o anil, o café e principalmente o fumo – com promissoras perspectivas nos mercados da Europa”, diz Celso Furtado no livro Formação Econômica do Brasil.
Com a expulsão dos holandeses do Brasil, as Antilhas se mostraram um local apropriado para o cultivo da cana-de-açúcar. Então, o perfil do morador das Antilhas foi mudando. Precisava-se de mão-de-obra escrava. As colônias de povoamento com objetivos militares deram lugar a colônias de exploração, sendo o principal intuito o econômico.
Em 1789, o Haiti era a colônia francesa mais próspera. Nessa época, chamava-se Saint Domingue e era o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. Saint Domingue era responsável por 40% do açúcar mundial, 50% do café consumido no continente europeu, além de 35% do comércio internacional da França.
Nessa época, a França passava por transformações drásticas. O mundo olhava para os franceses e tentava imitá-los. Não foi diferente com as colônias francesas. Após a Revolução Francesa, tão liberalista e clamando por direitos, Saint Domingue espera ter sua independência proclamada, o que não aconteceu. A decepção dos mulatos e dos negros alforriados ensejou uma revolução em 1791, cujo principal líder foi Toussaint L’Overture. Desde então, até 1803, Saint Domingue foi invadida pela Espanha, Grã-Bretanha e até por Napoleão, o qual queria restabelecer o regime escravista. Mas nem mesmo ele foi capaz de reconquistar a ilha; o fracasso foi tão imenso que ele perdeu 40 mil dos seus melhores soldados.
Em 1801, Toussaint conquista Santo Domingo (colônia espanhola) e unifica o país. Havia uma grande baixa populacional: cerca de 75% dos brancos e 40% dos mulatos tinham sido mortos ou haviam emigrado.
Em 1º de janeiro de 1804, Jacques Dessalines proclama a independência de Saint Domingue e se intitula imperador. Foi a partir daí que o país passou a se chamar Ayti, que, para os ameríndios da tribo Taïnos, significa “a terra das altas montanhas”.
Com a saída dos europeus - e com eles a tecnologia – o Haiti passou a viver de uma economia de subsistência e a empobrecer. Da metade do século XIX até o início do século XX, 14 dos 20 governantes haitianos foram mortos ou depostos.
Os Estados Unidos, com a desculpa de que estavam protegendo interesses estadunidenses no local, ocupou o país de 1915 a 1934. alguns anos depois, em 1957, François Devalier (o Papa Doc) instaurou a ditadura, perseguiu a Igreja Católica e exterminou todos aqueles que mostrassem contra dele. Em 1971, ele faleceu e quem o substituiu foi o filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc. Mas Jean-Claude não agüentou a pressão popular, decretou estado de sítio, fugiu para a França e deixou em seu lugar o general Henri Namphy. Depois de ter sido governada por mais dois generais realizaram-se eleições presidenciais em 1990, da qual o vencedor foi Jean-Bertrand Aristide.
Só que Aristide foi deposto, apenas um ano depois, por um golpe liderado pelo General Raul Cedras. O grande número de imigrantes haitianos nos Estados Unidos, fez com que os norte-americanos pressionassem o governo haitiano para a volta de Aristide ao poder. Em setembro de 1994, Aristide voltou ao poder, no entanto, o país estava mergulhado no caos.
Acusou-se Aristide de fraudar as eleições parlamentares e presidenciais, em 2000. Três anos depois, a oposição pedia a renúncia dele. A falta de acordo entre o governo e a oposição alimentou diversos conflitos civis mergulhando o Haiti em uma catástrofe sem tamanho. Aristide se exilou na África do Sul e o presidente da Suprema Corte – Bonifácio Alexandre – assumiu o governo interinamente e pediu a intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Conselho de Segurança, então, aprovou o envio de tropas ao Haiti, a chamada Força Multinacional Interina (MIF). Em 2004, também foi criada a Minustah – Mission dês Nations Unies pour la stabilisation en Haiti – cujo comandante designado foi o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira (do Exército brasileiro).
A partir de então, o Exército do Brasil passou a enviar tropas para o Haiti com o objetivo de contribuir para a segurança no país. O contingente é revezado a cada seis meses e o treinamento, feito pelo Centro de Instrução de Operações de Paz (Ciop Paz) é meticuloso para preparar centenas de soldados para a missão de auxiliar na reconstrução haitiana. São realizadas diversas ações, entre as quais as sociais. A permanência da tropa brasileira é aprovada por 78% da população do Haiti.
Outras nações - como a Argentina, o Sri Lanka e a Jordânia - fazem parte da Minustah colocando em prática a divisa haitina: L’Union fait la force (a União faz a força).
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