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sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Papa filósofo e o silêncio

Este blog está inerte há bastante tempo (na verdade, não o blog, mas a sua “dona”... hehehe), mas, devido aos últimos acontecimentos mundiais, senti uma necessidade tremenda de escrever. Inclusive, faço uma pausa nos textos de cunho mais impessoal, escritos na 3ª pessoa, para escrever um texto na 1ª pessoa, de cunho mais pessoal.

Primeiramente, gostaria de dizer que caso você não concorde com minhas ideias ou tenha suas opiniões e anseio expô-las, faça isso em um fórum ou grupo apropriado, num local onde pessoas que tenham as mesmas ideias que você costumam entrar em contato. Não estou obrigando ninguém a concordar comigo nem a ler este texto. Se você está lendo, saiba que foi por livre e espontânea vontade. Gostaria também de dizer que o BLOG É MEU, escrevo sobre o que eu bem entender e antes de me acusarem de grosseira, intolerante, fundamentalista, pergunte a si mesmo se não é você que está agindo assim. Antes de dizer que o Brasil é um país democrático, no qual impera a liberdade de expressão e de culto, SAIBA RESPEITAR A MINHA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Dito tudo isso, vamos às considerações...

O mundo – católicos e não católicos - se abalou com o anúncio da renúncia de Bento XVI, mas confesso que já a esperava desde a JMJ 2011 em Madri, na qual senti dentro de meu coração que a próxima Jornada seria sob o comando de um novo Papa.

Para mim, a notícia foi vista – e sobretudo, sentida – como um verdadeiro paradoxo. Senti – aliás, sinto – um misto de anseio e esperança para saber quem será o escolhido, quem ocupará o Trono de Pedro. No entanto, também sinto uma angústia, um aperto bem forte lá no peito (o qual chega até mesmo a ser físico) quando penso que Bento XVI já não será mais Papa.

Lembro-me como hoje do dia em que foi dito Habemus Papam. Era dia de eu ter aula de ter prova de alemão e – coincidência ou não – a prova foi adiada. Apesar das críticas e das notícias tenebrosas adjetivando Bento XVI de uma maneira simplista e preconceituosa, tinha a certeza de que seria um bom Vigário de Cristo.

Hoje posso dizer que me sinto mais juventude de Bento XVI do que de João Paulo II. Alguns podem criticar e achar que é pieguismo porque ele está deixando o Vaticano, mas, ele é o Papa do meu retorno às ligações mais fortes com a Igreja e o Papa de minha primeira Jornada Mundial da Juventude.

Ao ver Bento XVI tão de perto, com aquele sorriso sereno, uma paz inexplicável invadiu meu coração e pensei instantaneamente: “Se todos se permitissem sentir a beleza e a paz de espírito ao se estar perto dele, não diriam tantas barbaridades”.

Mas há um lado que me faz sentir ser ainda mais da geração Bento XVI: o lado filosófico do Papa alemão.

Considero Joseph Ratzinger um dos maiores filósofos deste século. Acredito que ninguém tenha escrito tão bem sobre o silêncio quanto Bento XVI. “O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório.”

Ele continua: “Grande parte da dinâmica actual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar?

Ora, como não pensar no silêncio e nestas sábias palavras ao se ver em um mundo pós-moderno bombardeio por informações. A informação é dada livremente e vendida sem cessar. O homem já não consegue ficar mais só, tem medo, pois confunde (ou é induzido a confundir) o silêncio com a solidão. Querem exemplo maior do que o nosso mais “fiel companheiro”, o celular? Quem não o checa a cada quinze minutos para ver se há uma nova mensagem ou se alguém não quer entrar em contato conosco? Esta busca inconstante em estar em contato com o outro fez perdermos o verdadeiro contato, a vera conexão conosco. Esta conexão deturpada ocasiona tremendas falhas na comunicação, o que em comunicação social é chamado de “ruído”.

Ao fazer um autêntico hino ao silêncio, Bento XVI tenta nos despertar do transe em que a overdose de “comunicação” que sofremos. A dificuldade de se desligar é tão difícil quanto o período de abstinência pelo qual passa um viciado em drogas. Mas os frutos podem ser extremamente proveitosos e revigorantes.

Voltando a falar de Bento XVI e de seus pensamentos, não há como não citar seu último trabalho A infância de Jesus, no qual ele fala dos primeiros anos de Cristo de uma maneira tão singela, mas, ao mesmo tempo tão profunda e nos diz que Deus espera bastante de nós, achando-nos capazes de feitos grandiosos.

É por tudo que relatei neste texto (se fosse falar mais sobre outros escritos de Joseph Ratzinger como Deus caritas est o texto ficaria enorme...) que me senti ainda mais angustiada ao ouvir o irmão do Papa dizer que ele não escreveria mais. Sinto-me órfã de seus belíssimos trabalhos e só tenho uma coisa que gostaria de dizer a Ratzinger: Herlizchen dank!

Para ler mais:
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 46º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS - «Silêncio e palavra: caminho de evangelização»

Deus caritas est