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quinta-feira, 1 de maio de 2008

Jornalismo e desinformação

O papel do jornalismo é informar, mas será isto ocorre realmente? A forma como as matérias são redigidas favorecem o entendimento? O que prevaleceria na hora de veicular alguma notícia? Leão Serva tenta responder a estas e outras perguntas no livro Jornalismo e desinformação. “No caso do jornalismo atual, a surpresa advém ainda menos da natureza do evento e mais do próprio processamento jornalístico”, fala Serva.

As notícias são separadas em editoriais, porém isso não impede que tenha, por exemplo, economia em uma matéria do caderno de esportes. A avaliação da importância das notícias pelas editoriais é que faz a diferença entre os jornais.

Mas será que essas notícias são bem compreendidas pelos leitores? Elas são veiculadas, na maioria dos casos, sem contexto fazendo quem ler pensar se tratar de uma novidade. Um exemplo utilizado no livro é o da Iugoslávia, pois os conflitos são reflexos de centenas de anos de brigas internas e desavenças éticas, que culminaram com o ocorrido em Kossovo, na década de 90.

Para Serva, “a notícia é apenas uma parte da história, um fotograma de um filme de longa metragem”, por isso não pode ser compreendida isoladamente. Mas quase nenhum veículo está disposto a analisar as causas das matérias, eles apenas publicam as conseqüências. É preciso que o leitor esteja “desinformado”, ache tudo uma surpresa para comprar o jornal.

A informação é deformada devido a alguns casos de “submissão” (quando um fato tem uma edição que não permite ao receptor entender e deter a real importância do ocorrido ou até mesmo o significado). A desinformação funcional e a saturação são imposições do sistema econômico, controlador da economia da informação, indústria e comércio de signos. O leitor “compra” tanta informação que não consegue organizá-la. “O ‘Grande Irmão’ não nos olha, mas nos obriga a olhar para ele permanentemente.”

As grandes empresas necessitam eliminar a voz do cidadão, como “na sociedade democrática não é possível retirar do receptor o poder de emissão, então esse processo é feito através da saturação dos canais de emissão”. O excesso informativo é causa da perda de poder individual, o primeiro seria o de manipular informações.

As matérias são reduzidas com o propósito de facilitar o entendimento, mas nem sempre isso acontece. Há casos distintos de redução: um em busca da uniformidade, já que histórias complexas não podem ser vinculadas; por parcialidade, que implicam elementos culturais e ideológicos implícitos, além da observação de campo. E quando se isola e descontextualiza um fato, ele perde a essência.

A busca pelo “novo” faz os desdobramentos de algumas notícias serem esquecidos. Dessa forma é imposta “a desinformação sobre as conseqüências a longo prazo de fatos que um dia soaram surpreendentes ou sobre as origens de longo prazo de fatos que o surpreenderão em outro momento”.
O “esquentamento das notícias” trata-se aberturas novas a textos relacionados a fatos anteriores. Mesmo quando se tem um desfecho previsto, a imprensa dá um jeito de tornar a situação numa novidade.

Leão Serva resuma esta situação quando diz que “a técnica jornalística, tal como é entendida e praticada hoje – confecção de produtos compostos de informações -, não atende ao objetivo de permitir a compreensão dos acontecimentos, mesmo daqueles que porventura venham a se tornar fatos de interesse para a cobertura de imprensa”. Esse processo do jornalismo causa a incompreensão porque não leva em consideração o passado nem o presente. Até o formato do lide não ajuda o entendimento das matérias, pois se redige primeiro o fato desconhecido.

O jornalismo é que unifica sociedades que vêem o tempo de maneiras diferentes. O consumidor, no caso o leitor, e a personagem permanecem distantes, cada um com sua tradição cultural, mais uma fator que dificulta a compreensão e facilita a desinformação.





Para saber mais:

Jornalismo e desinformação
Autor: Leão Serva
Editora: Senac
ISBN: 8573591927
Ano: 2001
Edição: 1
Número de páginas: 144