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terça-feira, 30 de agosto de 2005

Cultura: um conceito antropológico

No livro Cultura: um conceito antropológico, Roque de Barros Laraia abrange algumas das teses antropológicas que visavam responder determinadas questões relacionadas à cultura.

Inicialmente, os estudos apontavam as características genéticas como grandes influenciadoras da personalidade humana. E, mostrando-se logo no começo da obra, como um “determinista cultural”, o autor fala que independente dos genes, o que prevalece é a cultura. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade.” Ele diz que até a divisão do trabalho por sexo é um aspecto meramente cultural.

No decorrer da obra, Roque cita o Determinismo Geográfico, o qual afirmava que as diferenças no ambiente físico afetavam a diversidade cultural. Entretanto, em seguida o escritor comenta que na década de 20, há uma quebra desse conceito. “E possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.”

A cultura é seletiva, explora “determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura”. Laraia ratifica, baseado nos estudos antropológicos modernos, que “as diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são imposta pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente”.

Edward Tylor criou o termo culture, advindo da junção da palavra alemã Kultur, que estava relacionado aos aspectos espirituais, e do vocábulo francês civilization, que seriam os feitos materiais. Dessa forma, cultura era toda a possibilidade de realização humana.

O autor destacou estudos realizados antes do surgimento do termo culture. Foi o caso de John Locke. Em 1690, escreveu Ensaio acerca do desenvolvimento e demonstrou que a mente do homem seria uma “caixa vazia”, com a possibilidade de adquirir conhecimento. Era através dessa aquisição, que ia sendo preenchida.

Influenciado pela teoria evolucionista de Darwin, Tylor acreditava que a humanidade estaria dividida em estágios da civilização. A européia seria a mais avançada. O autor já demonstrava com isso uma característica até hoje comum: o etnocentrismo. A cultura se desenvolveria de maneira uniforme, linear. Em um dos capítulos do livro, Roque de Barros Laraia fala exatamente o oposto: “a cultura é dinâmica”.

Stocking critica Tylor ao dizer que ele esqueceu do relativismo cultural dos múltiplos caminhos da cultura.

Contrário ao evolucionismo, apareceria o alemão Franz Boas. Ele atribuiu a Antropologia Moderna:


a) a reconstrução da história de povos de regiões particulares;
b) a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

Quanto à cultura, teria surgido a partir do aparecimento da primeira regra: a proibição do incesto. Ela seria abstrata e, contraditoriamente, por essa razão, era impossível determinar “onde, como e por quê” surgiu.

O autor tenta deixar claro que apesar do homem ser um animal, a cultura afasta-o definitivamente desse aspecto. “O homem ao adquiri-la perdeu a propriedade animal. Tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura”.

A cultura funciona como códigos binários. Existiriam culturas diferentes porque elas organizariam esses “códigos” de maneiras distintas. Ela é possuidora de lógica própria, então é inadequado se dizer o que é “certo” e “errado”. Ao se fazer isso, o julgamento corre o risco de ser etnocêntrico.

A cultura influencia até mesmo no plano biológico e a tendência é o crescimento dessa influência. Os indivíduos não participam de todos os aspectos dela, e nem o fazem igualmente. “Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. Isto porque, como afirmou Marion Levy Jr., ‘nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade não são todos os habitantes igualmente bem socializados, e ninguém é perfeitamente socializado. Um indivíduo não pode ser familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade; pelo contrário, ele pode permanecer completamente ignorante a respeito de alguns aspectos. Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo. Além disto este conhecimento mínimo pode ser partilhado por todos os componentes da sociedade de forma a permitir a convivência dos mesmos”.

A análise de outras culturas, se não a nossa, é complicada, já que quando não se está inserido em uma determinada cultura, pode-se ser considerado “cego culturalmente”.

Conclui-se que mesmo o autor sendo parcial, e exaltando a cultura em detrimento da natureza, ele não “fecha” nenhum pensamento. Coloca pontos diversos, teorias distintas, porém destaca sempre a cultura e quer confirmar que tudo é determinado por ela. Aí está a grande falha de Laraia: a cultura é limitada.

sábado, 27 de agosto de 2005

O caminho das nuvens

As bicicletas têm um papel muito além do de meio de transporte ou de meras coadjuvantes no filme “O caminho das nuvens”. A bicicleta é o elemento de ligação e, em certos casos, de desunião entre a família de retirantes nordestinos que percorrem mais de três mil quilômetros da Paraíba até o Rio de Janeiro, acreditando num futuro melhor.

É tendo as bicicletas como único meio de não se separar da família e ir em busca do seu sonho, que Romão sai destinado atrás de um emprego e uma vida digna para os que dele dependem. Ao viajarem juntos, a união e dependência dos familiares aumentam.

Um exemplo da bicicleta como fator que favorece a desunião fica explícito no momento em que há uma briga entre o casal principal. Romão (Wagner Moura) afirma que a viagem torna-se mais difícil por ser em bicicletas (“fura pneu, se machuca”) e fala que a esposa não sabe andar direito, o que a deixa irritada e causa momentos de tensão entre Rose (Cláudia Abreu) e o esposo. A bicicleta também é o único elo entre a Antônio, o filho mais velho, e a família quando ele decide “tomar as rédeas da vida” e tornar-se um adulto.

A todo o momento é questionada a atitude de Romão de percorrer mais de três mil quilômetros de bicicletas e com filhos pequenos (no início do filme, o caminhoneiro pergunta se é promessa), é como se o fato de não ter nada, lugar para morar, comida, roupa não tivesse importância. O que realmente é levado em consideração é o posicionamento do protagonista de utilizar as bicicletas.

Como afirma o ator Wagner Moura “a imagem da bicicleta é uma coisa muito poética”. E, é com esse lirismo que o enredo vai se tornando leve, suave e romântico. Com as bicicletas, os viajantes dependem, quase unicamente, do próprio esforço físico, da coragem. Eles não precisam alimentar nem abastecer o meio de transporte escolhido. As únicas coisas que “abastecem” a viagem são a alegria, a esperança e a união.

As bicicletas são as companheiras, estão presentes em todo o decorrer do filme. Até mesmo quando não são usadas, elas estão lá, paradas, inertes, como expectadoras e agentes influenciadores do filme.

A primeira coisa que Rose questiona ao viajar num caminhão (primeira vez que teriam de desfazerem das bicicletas) é: “E as bicicletas, podemos levar as bicicletas?” Elas são marco de um passado miserável e crença num futuro melhor, lembrança da terra deixada para trás e meio para chegar num lugar melhor.

domingo, 21 de agosto de 2005

Recife também é rock francês!


Se você encontrar, por acaso, uma banda de rock francês chamada “Recife” pode acreditar: não é mera coincidência! O grupo foi assim batizado por causa da capital pernambucana. “Nossa música não tem origem brasileira, mas nosso disco demonstra alguns dos sentimentos os quais senti ao visitar o Brasil, além de remontar a algumas imagens fortes do país, dentre elas as de Recife”, fala Yvan Mercier, vocalista e guitarrista do conjunto, que se diz um fã de Lenine. Para ele, “Recife é o ponto de partida de certas idéias ou de pedaços de composições sonoras”.

Formado em fevereiro de 2002 por Yvan e Sébastien Trouillot (voz e piano), Recife é composto ainda por Stéphane Dégremont (guitarra), Alain Moyal (baixo) e Emmanuel Deniaux (bateria). Os rapazes de Toulouse (cidade do Sul da França) se definem como um estilo que mescla o pop/rock, mas que também tem influências eletrônicas. Isso fica claro ao se escutar São Paulo (realmente nota-se que o Brasil marcou as composições do grupo!) e L’interstice, nas quais há uma forte presença da guitarra, assim como dos acordes do piano.

Na verdade, não existe um estilo que defina precisamente o som de Recife, que ainda flerta com o trip-hop, o clássico e a música psicodélica dos anos 70. Também não se trata de algo feito para vender, já que os componentes mostram maturidade (a idade varia dos 30 aos 35 anos) em suas canções.

Um fato importante na construção sonora do grupo dos rapazes de Toulouse foi a estada de Yvan na ilha de Amsterdã, território situado entre a África do Sul e a Austrália. O isolamento ajudou-o a formar os primeiros traços sonoros de uma maneira “anárquica e emocional”, como define Yvan.

Pouco tempo depois de retornar à França, Yvan veio ao Brasil. Após passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife “os sons começaram a se formar e se mesclar, mas foi em Recife que eles terminaram de nascer. As cores e as luzes abrasivas que iluminam a cidade do Recife correspondem bastante a nossa música”. Pelo que fala Yvan, as imagens são grandes fontes de inspiração para o processo de criação musical da banda.

Mas qual seria o grande sonho do grupo? “Queremos muito tocar em Recife, seria algo totalmente inacreditável!”

Site oficial

sábado, 20 de agosto de 2005

Visão (errônea!) da América Latina

Como é terrível a visão que os americanos tem dos latinos, inclusive nós, brasileiros!! Porque é isso que somos: LATINOS!! O pior é que os jovens, por um lado não tem culpa alguma, pois isso já vem de gerações.

Assisti a uma palestra lá na Fundação Joaquim Nabuco com o professor João Feres Junior. Ele falou tudo que eu pensava quando criei o título “Entra por osmose”. O nome da palestra foi América Latina: a construção de um conceito.

Vamos lá... A tese de Feres se baseava mais ou menos na seguinte percepção: A (pertencente a sua cultura) enxerga B como se fosse sua contra-imagem, ou seja, em outras palavras, a visão de determinada cultura através do etnocentrismo.

Levando em consideração esse conceito, os latinos são vistos pelos estadunidenses (sim... é bem melhor do que dizer americanos, já que nós também o somos!! Afinal moramos na América, não?!) como:: extravagantes na aparência, orgulhosos e mulherengos!!

O termo América Latina é de origem francesa, só no final do século XIX, começo dos XX foi que começou a ser usado nos EUA. Antes o que corresponde a “América Latina” era chamado de Spanish America, ou América Espanhola, em português. Olha aí já a generalização... por acaso somos descendentes de espanhóis? Um país tão imenso, que fala português, considerado parte de uma América “ESPANHOLA”!!

O curioso é que os estadunidenses criavam conceitos e mais conceitos, faziam estudos e mais estudos, mas sem terem qualquer contato com os hispânicos. Daí o favorecimento da construção de estereótipos, haja vista que eles existem para simplificar algo – por exemplo, a cultura – extremamente complexo.

Mesmo distantes dos latinos, eles criaram uma imagem desse povo por conta da imagem já produzida acerca dos espanhóis. É aquela velha história: “Filho de peixe, peixinho é!”

Quando foram anexar os territórios mexicanos, os Estados Unidos afirmavam que devido ao sangue, raça e culturas diferentes dos latinos, eles não se enquadrariam ao sistema político americano. Caso os territórios fossem anexados, os mexicanos deveriam ser tratados como colonizados. Os habitantes de possessões como Porto Rico, Havaí, não são considerados “americanos” justamente em decorrência desse fato.

Os Estados Unidos se plocamaram “tutores do mundo”. Antes o grande tutelado era a América Latina. Hoje quem são? Nem precisa perguntar, né? Os estadunidenses “supervisionavam” os paises latinos para verificarem se eles estavam “cumprindo as leis”. Por incrível que pareça não é só o islamismo que foi uma pedra no sapato dos EUA. Há décadas, o “problema” era o catolicismo!! A espiritualidade impedia o pragmatismo, que auxiliava “a incapacidade nata para modernização”, isso porque ajudava na manutenção de um tipo de “feudalismo”. Para Richard Morse a “América Espanhola” não tem história porque o passado ainda é presente. Eles nos viam (ou melhor, nos vêem) como eternamente atrasados.

O que fez os estudos sobre a América Latina aumentarem foi a Revolução Cubana em 1959. E, através da teoria da modernização, pretendia-se promover o crescimento do capitalismo nos paises subdesenvolvidos. Em outras palavras, totalmente em sintonia com os interesses dos EUA, eles queriam bloquear o crescimento do comunismo na América Latina. Como fazer isso? Simples, ué! Até hoje eles fazem! Colonizando os pobres coitados latinos através da cultura enlatada deles! E pior é que mesmo que a gente não queria, ela... entra por osmose!

Mas durante a palestra João Feres Junior faz uma pergunta e ele próprio a responde. Será que os Estados Unidos não têm traços coloniais? E os guetos e as relações raciais entre eles? Segundo João Feres, isso fez com que eles se tornassem “acríticos do eu”.

Eles nos vêem como violentos. Mas o que é a história americana se não um imenso derramamento de sangue?! Isso me faz lembrar o documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine, no qual os bonequinhos do South Park mostram a história dos EUA. Eles (ingleses das Treze Colônias) acabaram com os índios, depois os primeiros que nasceram nos EUA, brigaram com os ingleses pela independência, lutaram na Guerra de Secessão, depois dizimaram os mexicanos; jogaram duas bombas atômicas no Japão; sem contar na Guerra do Vietnã, Iraque...

E o que é de morrer de rir são as capas dos livros sobre os estudos latinos. Sempre os EUA são representados por um “adulto”, geralmente o tio Sam, enquanto que os latinos são crianças irreponsaveis, negras (não tem índio por aqui?) ou eles ilustram os livros de “História MODERNA da América Latina” com imagens pré-colombianas! Nossa... que modernidade!! Acho que ainda acreditam que vivemos em ocas!

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Bel-Ami



Vi um filme francês chamado “Bel Ami”. De uns tempos para cá, estou obcecada pelo cinema francês. Mas isso não vem ao caso agora. O que interessa realmente é a história: a de um jornalista corrupto, inescrupuloso, que se utiliza de contatos (leia-se amantes) para subir na vida e na profissão.

A cada dia fico mais triste com o que está acontecendo com o mundo e com o jornalismo, com a profissão que escolhi. No entanto, o que mais me entristece é saber que a “sacanagem” sempre existiu e sempre existira. É isso mesmo! Por mais que lutemos para mundo a cruel realidade a nossa volta, é (quase impossível mudá-la).

Lembro quando sonhava em comover o universo com minhas histórias, em fazer algo útil pela sociedade. Agora vejo que – talvez - não passou de uma ilusão. O próprio mundo não quer (ou talvez não aceite) ser mudado. O que vi durante os anos da faculdade foram ideologias caindo, cortinas se abrindo e a verdade (aquela verdadeira) aparecendo.

O jornalista não passa de um assalariado, o jornal de uma mercadoria, um negócio. É duro acreditar, mas é assim que é. Aqui não cabem interrogações, porém apenas “pontos finais”. Uma passagem do filme (que se passa na época da colonização da Argélia e do Marrocos, portanto deve ser no século...) me fez ratificar minha opinião. O chefe da redação diz ao aspirante à jornalista: “Isso aqui só serve para sustentar os negócios do Monsieur Walter [dono do jornal] , mesmo assim você quer continuar?”

É para isso que servimos... outra cena marcou minha visão do filme e do que é ser um jornalista e me fez refletir um pouco. Tendo que duelar por conta de uma notícia, o jornalista Georges Duroy comenta: “Será que não existe uma vida mais fácil?” Em um certo momento, ele questiona o motivo de fazer aquilo, arriscar a vida, por conta de uma informação.

Sem contar que nem sempre o que se lê nos jornais é verdade. A ghost writer de Duroy diz a ele que “é preciso enfeitar a realidade, floresce-la” para não torna-la enfadonha. Depois que comecei a estudar jornalismo, pergunto a mim mesma o que seria verídico ou não. Deixo claro que não quero ser a dona da verdade, só não pretendo ser iludida. Se bem que a verdade é bem relativa e nenhum ser humano é totalmente imparcial.

A todo momento atormento-me por, no dia de minha formatura, ter que fazer um juramento que não sei se serei capaz de cumprir e... quantas pessoas já não o quebraram e quantas ainda não farão o mesmo?

Chamem-me de pessimista, mas se pararem para pensar...

Le journalisme dans Bel-Ami

O povo brasileiro - Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Antropologia, em São Paulo, e dedicou parte de seus anos ao estudo dos índios, do Pantanal, da Amazônia e do Brasil Central. Fundou o Museu do Índio e o Parque Indígena do Xingu. Defendeu veemente a causa indígena. Criou a Universidade de Brasília; foi Ministro da Educação e Ministro-Chefe da Casa Civil.

Na sua obra, Darcy Ribeiro trabalha com três matrizes culturais. Ele começa descrevendo como ocorreu o surgimento do povo brasileiro. Segundo ele, tratava-se de um novo povo, que se enfrenta e se funde. Para ele, os costumes indígenas – que ofereciam uma moça índia como esposa aos recém-chegados – foi importante no processo de formação do povo brasileiro. O que era um costume dos índios, para o colonizador branco era uma maneira de ocupar a terra e explorar os nativos.

Era necessário refletir sobre a nossa formação, e isso nos remete às origens, à história que fomos construindo. “O tema que me propunha agora era reconstruir o processo de formação dos povos americanos, num esforço para explicar as causas do seu desenvolvimento desigual”, escreve o autor na introdução do livro “O povo brasileiro”.

Segundo Darcy, havia três teorias que ajudariam na compreensão do povo brasileiro:

Þ Teoria da base empírica das classes sociais. “Havendo lutas de classes, existiriam blocos antagonistas embuçados a identificar e caracterizar”.

Þ Tipologia das formas de exercícios do poder e de militância política.

Þ Teoria da cultura, capaz de dar conta das nossas realidades.

Através da junção desse conjunto teórico proposto por Ribeiro, ele formou uma teoria, até então inédita.

Entretanto, para aqueles que pensam encontrar imparcialidade na obra feita por ele, Darcy Ribeiro alerta: “faço política e faço ciência movido por razoes étnicas e por um profundo patriotismo. Não procure aqui, análises isentas”. Para o autor, o objetivo do livro é “ser participante, que aspira influir sobre as pessoas, que aspira ajudar o Brasil a encontrar-se a si mesmo”.

Ao falar sobre “distância social” no capítulo “Classe, cor e preconceito”, do seu livro intitulado “O povo brasileiro”, Darcy Ribeiro afirma: “a eleição é uma grande farsa em que massas de eleitores vendem votos àqueles que seriam seus adversários naturais. Por tudo isso é que ela se caracteriza como uma ordenação oligárquica que só se pode manter artificiosa ou repressivamente pela compreensão das forças majoritárias às quais condena ao atraso e à pobreza”.

Os descendentes dos grandes senhores, que compõem a classe dominante acreditam que a situação social dos negros livres, mulatos e brancos pobres são características da raça. Não se vê a má condição social como conseqüência da escravidão e da opressão. Darcy Ribeiro diz que o preconceito em si não acontece devido à raça e sim à cor da pele. “A luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi – e ainda é – a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional”.

Ele declara que o mulato sendo o resultado da miscigenação do negro com o branco, participa desses dois mundos. Isso o faz também ter o lado erudito do branco. Porém, eles só progrediriam se negasse à negritude possuída. “Posto entre dois mundos conflitantes – o do negro, que ele rechaça, e o do branco, que o rejeita – o mulato se humaniza no drama de ser dois, que é o mesmo de ser ninguém”.

Ainda sobre a questão negra, assim como Gilberto Freyre, Darcy escreve acerca da influência negra no idioma. “Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda”.

Ribeiro fala que cada grupo étnico vai perdendo sua identidade. “Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em conseqüência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a florescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor”.

Conforme afirma o autor “prevalece, em todo o Brasil, uma expectativa assimilacionista, que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branquização progressiva”.

Apesar de todo o preconceito vigente no Brasil, esse ocorre, como já foi dito, pela cor da pele. “Se a pele é um pouco mais clara, já passa a incorporar a comunidade branca. Acresce que aqui se registram, também, uma branquização puramente social e cultural”. Ele diz que a miscigenação modifica o biótipo do brasileiro.

Mesmo com toda a miscigenação, e sendo o Brasil multicultural, ele não é homogêneo. A ecologia, economia e imigração fomentaram as distinções verificadas no brasileiro, que povoa esse vasto território. No entanto, “os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia”.

Diferentemente do apartheid, onde mesmo mantido distante dos brancos, os negros podem manter sua identidade, no regime assimilacionista, os negros perdem-na, já que é diluída gradativamente. “A democracia racial é possível, mas só é praticável conjuntamente com a democracia social. Ou bem há democracia para todos, ou não há democracia para ninguém, porque à opressão do negro condenado à dignidade de lutador da liberdade, corresponde o opróbrio do branco posto no papel de opressor dentro da sua própria sociedade”. (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro, página 227)

No livro “O povo brasileiro”, Darcy escreve: “pude sentir, no exílio, como é difícil para o brasileiro viver fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos”. Em outras palavras, acusa o brasileiro de ser um povo xenófobo. Com isso, prova não ser parcial, conforme ele mesmo havia dito.

Encerro a análise com esta citação de Darcy Ribeiro, que não deixa de ser “esperançosa”: “todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles homens, mulheres e crianças. Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra esta herança maldita nos dará forças para, amanhã, conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária”.

Ué, entra por osmose!!

Vou explicar o motivo de ter feito o site "Entra por osmose". Quem me conhece sabe que adoro escrever. Já estou terminando o curso de jornalismo (se Deus quiser e se e conseguir terminar o meu projeto de conclusão!) e muitos textos estavam ficando "perdidos". Aqui vocês encontrarão textos, dicas de livros, filmes, bandas... Tudo que eu achar de diferente e tiver vontade de escrever! =P

O significado de "entra por osmose" é porque eu estava pensando na cultura americana, ou melhor, americana nada... dos Estados Unidos!! Como nós somos colonizados culturalmente e nem que a gente tente resistir, não dá! Ela... entra por osmose!! Sei que está parecendo um pouco sem sentido. Mas, de certa forma, vocês leiam meus textos, nem que para isso eles tenham que entrar por osmose. Completamente non-sense esse post, mas tudo bem... ainda teremos outros!!

Ah... em breve espero que o design do site mude. Só o que falta é a boa vontade de um amigo para tirarmos essa coisinha sem graça desse template "comum de todos". :)